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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Sempre Galiza! - Achégate a Mim Maruxa

coordenação de Pedro Godinho

Achégate a Mim Maruxa
(cantar galego)

Achégate a mim, Maruxa
chégate ben, moreniña
quérome casar contigo
serás miña mulleriña

Adeus, estrela brilante
compañeiriña da lua
moitas caras teño visto
mais como a tua ningunha

Adeus lubeiriña triste
de espaldas te vou mirando
non sei que me queda dentro
que me despido chorando


José Afonso, pai da moderna música popular portuguesa de qualidade, entre tantas outras composições, musicou e cantou esta letra popular galega no seu disco Fura Fura (1979).
Mais um exemplo de cultura portu-galega.
Ouçamos a versão do Zeca:



Noutro registo, a combinação portu-galega fica também evidente na interpretação de Maruxa feita em dueto, em Fevereiro de 2010 em Ourense, pela portuguesa Dulce Pontes e pela galega Uxia:



Síntese do reintegracionismo contemporâneo
Às 10h, a continuação do ensaio de Carlos Durão.



sexta-feira, 26 de novembro de 2010

coordenação de Pedro Godinho

Síntese do reintegracionismo contemporâneo (19)
  por Carlos Durão

(continuação)

/ O reintegracionismo, portanto, não é outra cousa que aquela doutrina que quer devolver a sua própria natureza ao Galego. [...] Não se pode construir um Galego sobre a base do estado actual do idioma nas camadas populares, porque sabemos que durante muitos séculos foi erosionada a língua oral, única realmente existente, por influência do castelhano. Então se queremos escrever e falar um idioma que não seja um mero dialecto vulgar do castelhano, há que restaurar os tecidos danados. [...] O Galego há de preservar a sua natural essência para o qual há que manter o contacto com as demais normas do sistema. [...] devemos entender que as diversas manifestações do Galego colonial, do galego que se foi expandindo a partir do seu nascimento na Gallaecia, são normas, são Falas, são dialectos que podem contribuir a enriquecer o nosso idioma.[...] Por suposto, todo o mundo sabe que eu professo em matéria de Política Linguística as ideias tradicionais, as ideias de Castelão, e como essas ideias são contrárias às ideias que reinam no mundo oficial, no aspecto cultural, pois, não tenho muito predicamento, ao parecer, dentro dessas esferas. Consideram-me como um herege, como um cismático, ou como um corruptor da mocidade, e se me exclui positivamente dos organismos oficiais. Isto é evidente, ainda que tamém é certo que entre as pessoas que formam parte desse “holding” cultural que hoje nos governa há gentes que conservam um respeito pessoal para mim, alguns mesmo um afecto pessoal, mas é verdade que se me considera um obstáculo para o desenvolvimento duma determinada Política Linguística e se me exclui decididamente em geral do mundo cientificoliterário que está servido por pessoas afectas às ideias reinantes, que são mais bem isolacionistas do que reintegracionistas [...] ensinaria o Galego que existiu historicamente e que existe actualmente, propugnando uma norma ampla que não exclua a nenhum sector que tenha importância sem aplicar uma ditadura linguística que resultaria ridícula” (1987, 18-22: 14-17); “Nom hai, dentro do sistema galego-português, duas normas, senom um material sem normativizar. Mais adiante, impom-se a conveniência de umha ordem, e afastadas politicamente a parte norte e a parte sul do domínio lingüístico, aparecem tendências nom coordenadas, e assi, neste estádio posterior, os elementos comuns vam-se decantando nas suas distintas soluçons, de jeito que hai formas mais usuais em Galiza e formas mais usuais em Portugal. Com o que a distinçom a que se chega finalmente entre galego e português está determinada pola referência electiva entre as diversas formas do sistema para constituir as respectivas normas. O isolamento dos territórios correspondentes por pertencer a distintos reinos, e as influências castelhana e moçárabe correlativamente no norte e no sul, acabárom por gerar umha distinçom que também se dá entre as diversas realizaçons do catalám, e de calquer outro idioma em circunstáncias análogas” (1983.1983: 18-19); “O galego nom nace cando renace a sua expressom escrita no século XIX” (1984: 30); “pode-se afirmar que as modalidades existentes na fala nom apresentam caracteres diferenciais suficientemente marcados para que se atribuam ao galego grupos dialectais. Nom existiriam dialectos, senom falares, dentro do galego. Esta vem a ser a opiniom de Vicente Garcia de Diego (1909), e é umha opiniom correcta [...]” (1978.1981: 121); “Nom estamos isolados” (1983: 122); “Nom estamos sós” (1978.1983: 122); “os dialectos do galego estam fora de Galiza” (1978.1981: 79); “Todos os dialectos podem combinar-se ao escrever em galego” (1978.1980.1983: 25); “o livre jogo das forças normativas dentro do sistema determinaria o futuro do galego reintegrado como língua oral e como língua escrita, como fala doméstica e como instrumento internacional” (1989: 900); “o português é umha garantia de supervivência do galego, porque ainda que nas províncias espanholas esta língua deixasse de usar-se, perviveria na forma meridional” (1981.1983: 34); “Nom é científico mutilar umha língua segundo os limites políticos, pólo que nom podemos aceitar que o galego remate exactamente nos limites com Astúrias, Leom, Zamora, Trás-os-Montes ou Entre-Douro-e-Minho” (1982.1983: 78); “Andar ensaiando soluçons que hai tempo forom contrastadas e seleccionadas polos nossos vizinhos, é jogo pueril ou serril, ditado por umha indiferença ou umha xenreira perante o português, que parece resultado da inoculaçom dum vírus preparado por inimigos da pervivência do nosso idioma” (1979.1981: 19); “É certo que en determinadas reunións de lingüistas, por exemplo a celebrada en Tréveris, à que non asistin, houvo duas ou tres persoas que se permitiron combater asañadamente os meus pontos de vista. En realidade eles son os orixinais. Eu sigo a tradizón, eles son os revolucionários.” (1986: 178); “A miña aportazón a estas normas foi tan particular como xeral; pode-se dizer que as fixen case na sua totalidade. Houvo algunhas observazóns que fixeron outros colegas e que se tiveron en conta. Pero en realidade fun eu o redactor principal destas normas [...]” (1986: 182); “[...] o que era Conselleiro de Educazón e Cultura da Xunta de Galiza naquela época, o profesor doutor Alexandrino Fernández Barreiro, falou comigo e pideu-me colaborazón para problemas técnicos relativos aos problemas lingüísticos. [...] a realidade é que [...] non me pideu informes persoais sobre cuestións lingüísticas, senón que me fixo Presidente dunha Comisón Lingüística que teria que abordar os problemas relativos às formas do galego que para o uso interno, para o uso oficial da Consellaria, terian de adoptar-se.[...] as tres persoas que éramos profesores da Universidade nos reunimos unha série de veces no meu despacho e elaboramos unhas normas, un proxecto de normas, a ponéncia de 1979, que constituian para entón un código de expreson normativa mui satisfactório. [...] A ponéncia, pois, foi aprovada unanimemente [...] se introduzian unha série de recomendazóns, polo que se refere a morfoloxia, que supuñan un esforzo para restaurar determinadas formas do galego histórico que foran esquecidas ou adulteradas pola influéncia castellana. De xeito que agora, dunha maneira expresa, havia unha referéncia, unha remisón ao noso galego histórico; [...] Esta ponéncia pasou logo da Comisón ao pleno, e ali se manifestou, por parte dalguns membros da Comisón, unha tendéncia a manter a ortografia usual de tipo castellano [...] à maioria da Comisón pareceu-lle oportuno deixar abertas as duas posibilidades na maior parte dos casos, de xeito que as normas que entón se adoptaron e que no meu pensamento tiñan por obxecto resolver un problema de réxime interior da Consellaria e de nengun xeito impor-se ditatorialmente ao povo galego [...] Esta posizón que, finalmente, se adoptou, ainda que non era idealmente tan satisfactória como a da ponéncia, posibilitava unha concórdia que foi imposível cando despois que esta Comisón se disolveu [...] as persoas que tiñan influxo na Consellaria ou as instituizóns das que a Consellaria se asesorava, plantearon de novo o problema e o resolveron da forma actual, que, como sabemos, tende a ser unha forma que, no pensamento dos seus propugnadores, ten un carácter dogmático, de forma que quedan excomulgados os que non se ateñen a esta opzón” (1986: 218-220);

(continua)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sempre Galiza! - A cor do cavalo

coordenação de Pedro Godinho





A cor do cavalo, de Félix Rodal-Fraga é um bom naco de prosa galega, também para português ler.
Recebeu em 2002 o 1º prémio na modalidade de Creación literária no XII Certame “Carvalho Calero”. Publicado pelas Edicións Laiovento, pode ser encomendado - por seis euros mais portes de envio - na Imperdível, a loja on-line da AGAL Associaçom Galega da Língua (http://imperdivel.net/).
Em trinta e seis páginas singelas entremeiam-se duas narrativas breves – a dum cavaleiro emissário do rei e a dum escritor galego de viagem a Lisboa –, pelas quais perpassam congeminações sobre as palavras, o tempo, a vida, e morte.
“Enquanto o corpo descansa o espírito sonha e os sonhos som a vida do espírito como esta nossa de agora é a vida do corpo. Percebe o meu senhor? Som palavras obscuras como a noite. Contar-lhe-ei, entom, um sonho do corpo, umha vida do espírito. A história de um cavaleiro de el-rei, em sete partes.”
“Quando baixo do comboio na estaçom e procuro táxi e penso no azar (eu nom som ele, Tabucchi), recordo a que venho a esta cidade e a que vim a ela em anteriores estadas, com quem estivem, quantas vezes, onde. E gosto, gosto já, porque começo a esquecer, a perder a conta e isso diz respeito de mim já meio habitante, já a planta na cabeça.”
“O trabalho de emissário. Um cavaleiro é os olhos, as maos, as orelhas e a língua do seu senhor el-rei nos confins do reio ou ante outros reis. Por isso quando um cavaleiro fai de emissário do seu senhor obtém com esta missom um grande voto de confiança e umha honrosa homenagem. Em troca, a glória acostuma ser muito breve e dolorosa. Som poucos os emissários que regressam e destes ainda menos os que fazem tal inteiros ou com vida. O emissário paga com a vida a ira desatada pola mensagem em quam recebe a carta. O emissário é torturado para obter dele aquilo que as palavras escritas nom contam nem na entrelinha. Muitas vezes sabe, muitas mais ignora aquilo que se lhe demanda.”
 “Adoro o modo em que a gente chega a casa nos filmes. Deixam as chaves sobre um móvel caro e requintado e tomam de umha pequena travessa de prata um maço de envelopes, sobrescritos e cartas várias que sustenhem com umha mao e baralham com a outra, seleccionando, ordenando, dispondo para a frente o importante e para o final os pagamentos e as mensagens dos bancos. E tanta tanta correspondência a diário. Nom conheço ninguém que receba tantas cartas num só dia como as personagens dos filmes, ninguém que tenha quem abra no seu lugar o marco do correio (se o houver) e coloque, de luvas branquíssimas como a neve, as cartas sobre a prata brilhada.”
“Ele aceita o meu conselho porque o sabe desinteressado e nom induzido polo terror que noutros conselheiros desata a sua ira. A vida é umha grande partida de xadrez. Jogar sem medo a nada perder é ganhar. Mas para isso é necessário ter umha razom pola qual jogar.”
“Umha simples frase que dá para sonhar um outro mundo que afinal é, para quem quer sentir em lugar de pensar, é, repito este, eis a frase, o mantra: De noite ninguém trabalha na catedral em obras. Se nom chove nem há nuvens podem-se ver as estrelas ali acima, nas abóbodas inconclusas, os céus estrelados e silenciosos que se abrem nos teitos de pedra.”



sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Sempre Galiza! - Do enquadramento da língua


coordenação de Pedro Godinho


“ De nada nos serviria que todo o mundo falase e escrevese en galego se ese galego (…) era realmente un castellano agalegado (…) Non abonda com que se fale galego, é que é preciso que ese galego sexa galego, é dizer, que non sexa un produto que con nome de galego nos apresente un dialecto do castellano. Asi que esta é a significazón que tem o esforzo que están realizando muitos intelectuais galegos en pro dunha reintegrazón do nosso idioma no seu sistema próprio (…) apesar do decreto de unificazón ditado para impoñer unha normativa oficial, existe un sector importante do país (…) que insisten na necesidade de ter em conta o galego histórico, e que non cren que se poda normativizar e normalizar a nossa língua sobre a base da realidade dialectal dos tempos modernos, que é a consecuéncia dun proceso de degradazón do noso idioma, producido por circunstâncias históricas de sobra conhecidas.”

   in Conversas en Compostela com Carballo Calero, M.A. Fernán-Vello / F. Pillado Mayor, ed. Sotello Blanco, 1986, p. 239


Nas palavras do professor Ricardo Carvalho Calero, “o galego ou é galego-português ou é galego-castelhano, não há outra alternativa”.


O longo período de colonização castelhana do galego abastardou-o  e tornou a questão da língua igualmente uma questão política.

Os que pugnam por um galego-castelhanizado, pretensamente ‘moderno’ por oposição a um galego ‘histórico’, alinham habitualmente com uma visão duma Galiza espanholizada e assimilada, isto é, com uma autonomia limitada e diluída num ente espanhol (leia-se castelhano) mais amplo.

A afirmação duma identidade galega, da nação galega, estão, também, ligados à afirmação da sua língua. Alguns galeguistas procuram no ‘isolacionismo’ a criação dum novo galego, pensando ser essa a melhor forma da sua afirmação, mas outros vêm no ‘reintegracionismo’, isto é, na reintegração das falas galegas no universo histórico-linguístico galaico-português (actualmente denominado internacionalmente de língua portuguesa), a visão do potencial de união do galego e do português (duas nações, uma língua), e da contribuição e utilidade que essa associação e rede internacional pode dar para uma Galiza livre, democrática e autogovernada.



Síntese do reintegracionismo contemporâneo


Para um melhor conhecimento e compreensão da problemática do galego e das bases do reintegracionismo, o Estrolabio irá publicar uma aliciante “Síntese do reintegracionismo contemporâneo” da autoria de Carlos Durão.

«Nota prévia: O presente trabalho foi concebido com o alvo eminentemente prático de orientar as pessoas que se acheguem sem preconceitos à problemática do idioma galego. Não é um ensaio histórico: só “contemporâneo”; e não é um estudo em profundidade: só uma “síntese”; tem, sim, uma parte de história recente, mas sobretudo quer refletir os testemunhos de um grande conjunto de pessoas que, em muitos casos independentemente umas das outras, chegaram a conclusões parecidas e convergentes: por isso elas não figuram no texto em ordem histórica nem alfabética. E, pelas mesmas razões, conclui com um mínimo de bibliografia e endereços de organizações reintegracionistas. Uma versão abreviada foi publicada no 1º Boletim da AGLP, 2008»


Tendo em conta a dimensão do ensaio, e para permitir uma melhor leitura sequencial, excepcionalmente, a rubrica bissemanal “Sempre Galiza!” no Estrolabio passará a diária durante a publicação deste relevante ensaio.

A partir da próxima 2ª-feira, dia 8, todos os dias, acompanhe, em “Sempre Galiza!” no Estrolabio, a “Síntese do reintegracionismo contemporâneo” de Carlos Durão.


A tentativa de nos reenquadrarem a língua

Hoje, com a habitual devida vénia, transcrevemos o seguinte artigo de opinião publicado no Portal Galego da Língua (http://www.pglingua.org) :

A tentativa de nos reenquadrarem a língua

Por Celso Alvarez Cáccamo

«Recentemente assiste-se a um certa tentativa de reenquadramento dos conflitos linguísticos no Estado Español em várias espécies.  Desde o "progressismo" centrista faz-se, por exemplo, em termos do apelo a uma "diversidade" semelhante à exuberância da flora tropical. É um discurso velho e novo ao mesmo tempo.

Velho, porque se recolhe também nessa pretensa proteção da "riqueza das modalidades linguísticas" que está na Constitución Española e em tanto discurso, também progressista, que não compreende ou não quer compreender o que é um projeto de construção de língua nacional. E novo porque, em lugar de atacar frontalmente os projetos de intervenção (pouca gente ousa dizer, por exemplo, que o galego "não serve para nada"), estes são reduzidos à necessidade de medidas locais, parciais, sempre estimadas em termos de necessidades específicas, numa paródia da auto-gestão dessa diversidade.

Em poucas palavras: a recuperação das línguas não-espanholas continua a ser folclorizada porque, no fundo, se concebe sempre um quadro linguístico mais amplo (o da Lengua dominante que não precisa de tal intervenção). Mas resulta que nem a Galiza, nem Catalunha, nem o País Basco, nem o País Valenciano, etc., são sociedades tribais com o que se chamam heritage languages ("línguas de herança") que um feixe de índios conscientizados ensinam em locais provisórios como puro "património simbólico".

Da mesma maneira, ao lado dos mitos do monolinguismo e do bilinguismo surge agora o mito do "plurilinguismo", um plurilinguismo peculiarmente concebido.

O título do infame Decreto Feijóo/Lorenzo da administração do PP ultrapassa o seu nicho no DOGA para ser motivo, por exemplo, dumas jornadas do STEG. Parece que o PP é especialmente hábil em gerar palavros que até a oposição do nacionalismo linguístico faz circular, para maior glória dos seus geradores.

 Porque, é que o "plurilinguismo" é ideia nova agora? E, de que plurilinguismo se fala? Do que sempre tiveram as elites poderosas que falam os idiomas poderosos do mundo para se comunicar na linguagem do dinheiro? Do plurilinguismo "de base" das sociedades multiétnicas (africanas, por exemplo), onde várias línguas de identificação social são utilizadas junto a línguas ex-coloniais e neo-coloniais (isto é, coloniais)? Ou não se tratará do ideal dum semi-plurilinguismo acaído para perpetuarem o semi-analfabetismo numa sociedade galega que, por não ter, não terá nenhuma língua inteira (nem português, nem inglês, nem español)?

E, por último, ressurge também o enquadramento da "ecolinguística", palavro também pegadiço como canção de verão. Tampouco é nova. As línguas no seu espaço eco-social, não é? Mas, ou isto se concebe em termos eco-sócio-político-linguísticos, ou se está a falar da mesma diversidade linguística de sempre.

Na realidade, não li um recente volume coletivo, Lingua e Futuro, com a focagem nessa onda, Unha perspectiva ecolingüística, porque um livro académico que fale do passado, presente e futuro do galego sem incluir nas suas cumpridas referências bibliográficas nem sequer uma menção a nem sequer um livro, trabalho, artigo, palestra ou texto jornalístico de nem sequer uma só pessoa reintegracionista durante décadas de produção (isto é, os que dizemos e escrevemos que galego e português são a mesma língua, que se chama língua portuguesa), merece-me pouquíssimo crédito. Será um livro pavero, mas não é nem ciência nem resistência. Um pergunta-se se a urgência duma improvisada contestação ao Monstro do PP, os interesses comerciais editoriais, a caché do termo "ecolinguística" e outros fatores oportunistas se impuseram, como amiúde acontece, sobre o critério do rigor académico para uma questão tão crucial como --dizem os mal pensados-- é a Língua da Galiza.

Mas é que, já digo, o jogo do reenquadramento discursivo parece estar a ser mais importante do que outras questões. Dirá-se que me estou a referir, na minha crítica, a discursos e posições muito diferentes. Talvez sim, mas nem tanto. Todos continuam a caraterizar-se, como é costume, pola exclusão. Não é grave que neste jogo se excluam pessoas, que são mortais, mas sim o que estas dizem, que permanece escrito. Esses discursos excluem afirmar com todas as letras que o conflito linguístico na Galiza é uma questão de Estado porque é um conflito entre línguas nacionais e de Estado, não entre uma Lengua plena dominante e uma curiosa variedade dominada a "proteger".

Tírios e troianos excluem, por exemplo, a evidência categórica de que não se pode reinventar o que é uma Língua Nacional, e que esta língua nacional já a temos noutros estados, para imitarmos a sua natureza e as suas funções (dentro das nossas formas) como obedientes discípulos. Excluindo assim o discurso da razão de Estado, isto é, a questão radical do conflito linguístico galego, permite-se e tolera-se a penetração de viragens discursivas de todo o tipo que, na realidade, não dizem nada novo e, sobretudo, não abrem as portas para agirmos nada novo. É esta uma ampla aliança, não o nego, dentro do que dei em chamar o "contínuo galeguista", bem tolerada desde o centro. Mas uma aliança social assim não dá necessariamente a razão.

O galego é língua portuguesa. A gente antiga da Galiza inventou a língua, decerto, mas estruturas não galegas muito posteriores ("Portugal") inventaram a língua nacional. Um agir linguístico, cultural e político responsável deveria começar por não omitir nunca esta evidência histórica, que só uma hipocrisia de classe e de facção dominante de campo quer apresentar como dolorosa.»


Reveja também aqui o vídeo da Sessão Inaugural da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP), realizada em 6 de outubro de 2008, em Santiago de Compostela, Galiza - Europa:

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sempre Galiza! - Musicando Carvalho Calero

coordenação de Pedro Godinho

















No passado dia 30 de Outubro, o Estrolabio dedicou toda a sua edição (textos, poemas, entrevistas, vídeos) à comemoração do centenário do nascimento de Ricardo Carvalho Calero (Ferrol, 1910 — Compostela, 1990). Carvalho Calero é uma figura cimeira da intelectualidade galega do século XX, escritor e filólogo, tendo sido o primeiro Catedrático de Língua e Literatura Galegas na Universidade de Santiago de Compostela.
Hoje trazemos notícias de duas outras homenagens do dia 30 de Outubro: a inauguração do monumento a Carvalho Calero e o resultado do concurso musical Musicando Carvalho Calero.



Monumento a Ricardo Carvalho Calero
Na Galiza, entre as várias iniciativas organizadas para celebrar o seu centenário esteve a inauguração em Santiago de Compostela dum monumento a Carvalho Calero.
A estátua, da autoria do escultor José Morales, inscreve numa das faces da base uma frase representativa das ideias e visão de Carvalho Calero sobre a língua: "A fala da Galiza, o portugués de Portugal, o portugués de Brasil e o portugués dos distintos territorios lusófonos forman un único diasistema lingüístico conhecido entre nós popularmente como galego e internacionalmente como portugués".


Concurso Musicando Carvalho Calero
Como parte dos eventos dedicados ao centenário de Carvalho Calero, a AGAL (Associaçom Galega da Língua) idealizou em parceria com o portal de música em galego Komunikando.net
o concurso “Musicando Carvalho Calero”. O objectivo deste concurso musical foi o de celebrar e dar a conhecer a figura e importância de Carvalho Calero para a língua e cultura galegas, musicando a sua obra poética.
Foram 17 os temas apresentados a concurso, de entre os quais - por votação conjugada da internet (1/5 da pontuação) e dum júri (4/5 da pontuação) constituído por Xavier Freire, poeta; Carlos Quiroga, escritor e os músicos Carlos Valcárcel (Projecto Mourente) e Leo Campos (Leo i Arremecághona) – saíu vencedor o grupo “A Minha Embala”, constituído pela angolana Aline Frazão (voz, guitarra) e pelo segoviano César Herranz (flauta transversal, percussão), com uma versão do poema de Carvalho Calero “Maria Silêncio”.
A canção vencedora bem como as outras 16 podem ser ouvidas em: