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terça-feira, 28 de junho de 2011

Sempre Galiza! – Ernesto Guerra da Cal: Ramalhete de Poemas Carnais, “In Memoriam” de Ricardo Carvalho Calero - I Esfinge

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho


De Ernesto Guerra da Cal – para ler, reler e partilhar

os sete poemas de:

Ramalhete de Poemas Carnais

"In Memoriam" de Ricardo Carvalho Calero


Ernesto Guerra da Cal
















R A M A L H E T E

***********************







DE

**







P O E M A S C A R N A I S

************************************







In Memoriam





de







R i c a r d o C a r v a l h o C a l e r o

==============================





Velho Amigo





e





grande Poeta amatório














The delirium of flesh




the lovely dance




that ends in nakedness”.





RAD CALAGUER



I.M. Carvalho Calero/ G. da C.



I


ESFINGE

***********







Muito antes de sentir



nas narinas da ALMA



o aroma



íntimo



intenso



nocturno



feminino



da



MAGNÓLIA indizível



do



teu



SEXO





Muito antes de gostar



na língua da minha ALMA



o sabor



mel e leite



lírio e rosa



dos



biquinhos direitos



dos



teus



PEITOS



tive



o



presentimento



do



teu



nu CORPO infindo



e



das



vias sem termo



do



labirinto cego



da



tua



CARNE



isolada e deitada



no meio



do



DESERTO




ESTORIL


Primavera


1990


[ dia 5/7 - II FADO CHORADO SOBRE UM AMOR PASSADO ]

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Sempre Galiza! – wiki-faq AGAL (17) : Movimento reintegracionista - Perspectiva histórica

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho

wiki-faq do reintegracionismo

( http://agal-gz.org/faq/ )



Movimento reintegracionista

Perspectiva histórica


Quem foi o primeiro reintegracionista. Quando aparece o reintegracionismo?

O reintegracionismo tal e como hoje o entendemos nasce entre finais dos anos 70 e princípios dos 80, com a consolidaçom de umha prática ortográfica para o galego convergente com a do português.

Nessa altura, para a consolidaçom dessa prática, tivo grande importáncia um grupo de sacerdotes galegos residentes em Itália que assinárom um texto conhecido como o Manifesto dos 13 de Roma. Porém, nesta primeira etapa da prática reintegracionista moderna também fôrom fundamentais figuras já falecidas como Carvalho Calero, Jenaro Marinhas del Valle, Paz Andrade, Rodrigues Lapa ou Guerra da Cal.

Nom obstante, a vontade do Reintegracionismo moderno de construir o galego tendo em conta o português perde-se na história do galeguismo. De facto, pode afirmar-se que essa vontade existe desde o momento mesmo que nasce um movimento cujo objetivo é usar e dignificar o galego, existindo inúmeras citaçons de galeguistas históricos que provam isto.

O reintegracionismo nom é umha tendência dos últimos anos?

O reintegracionismo é só relativamente moderno.

Como movimento organizado nasce em 1981, com a fundaçom da Associaçom Galega da Língua (AGAL) e populariza-se em 1983, com a publicaçom do Estudo Crítico das Normas Ortográficas e Morfológicas do Idioma Galego (ILG-RAG). Porém, como tendência perde-se na história do galeguismo.


Som numerosos os estudos de várias disciplinas humanísticas que demonstram que a filosofia reintegracionista, isto é, aquela que propugna que o português deve ter-se em conta para construir o galego moderno, acompanhou o programa galeguista desde o momento mesmo em que este nasceu.

Em geral, pode mesmo dizer-se que nos momentos da história em que o galeguismo/nacionalismo gozou de mais força, também a filosofia reintegracionista chegou a influenciar mais o programa cultural do mesmo. O momento culminante desta intimidade produziu-se com a Geraçom Nós.

O reintegracionismo nom é recuar na história?

É antigo e moderno ao mesmo tempo.

Nom se pode negar que, atrás do reintegracionismo, existe certa vontade de restaurar umha unidade ideal perdida há muitos séculos. Umha vez que a situaçom do galego é fraca na atualidade, o reintegracionismo pretende considerar toda a história da nossa língua e nom apenas recuar a aquela parte em que o galego já se encontrava em situaçom de minorizaçom. Dito de outro modo, o reintegracionismo encontra na Idade Média, o período em que o galego foi língua nacional de cultura, um modelo para a construçom do galego moderno tam válido como o do século XIX e XX.

Ora, o reintegracionismo é sobre todo um projeto de futuro. Usando como modelo as variantes da língua que nom ficárom subordinadas ao castelhano, e que se espalhárom amplamente polo mundo, propom um modelo de língua ao mesmo tempo alicerçado na tradiçom medieval e inserido na Lusofonia.De facto, se nom existisse a Lusofonia, talvez nom valesse a pena sermos reintegracionistas, porque a razom fundamental do nosso modelo de língua é que ele goza de grande saúde na atualidade.

Reintegracionistas históricos?

O reintegracionismo moderno assenta a sua prática no programa lingüístico-cultural do galeguismo, nomeadamente dos intelectuais mais conhecidos deste movimento: Manuel Murguia, Vicente Risco, Vilar Ponte, Castelao, Joám Vicente Biqueira.

Porém, quando a finais dos anos 70 se iniciou o debate que deu origem às duas práticas ortográficas atuais (a de tradiçom castelhana e a de tradiçom galego-portuguesa) só alguns daqueles membros do velho galeguismo continuavam com vida. Alguns, como Jenaro Marinhas del Valle, Carvalho Calero, Valentim Paz Adrade ou Guerra da Cal passárom a ser, para além de galeguistas históricos, reintegracionistas históricos, tendo defendido com paixom a prática reintegracionista.

Uns e outros deixárom inúmeras citaçons sobre esta questom.

Castelao reintegracionista?

Castelao nom se definia como reintegracionista porque este movimento, com esse nome, só nasceu nos fins do decénio de 1970. Porém, ele, como galeguista em geral e membro da Geraçom Nós em particular, era firmemente partidário de avançar em direçom à confluência normativa com o português. O seu livro Sempre em Galiza, pode considerar-se, de facto, umha das obras de referência do Reintegracionismo ao longo da história, com contínuas alusons à unidade da língua.

Porém, para Castelao, a unidade do galego-português devia ter conseqüências práticas, como expressou numha conhecida carta ao historiador espanhol Sánchez Albornoz:

Yo deseo que en Galicia se hable tan bien el gallego como el castellano y el castellano tan bien como el gallego. Deseo además que el gallego se acerque y confunda con el portugués, de modo que tuviésemos así dos idiomas extensos y útiles.


Escreviam em reintegrado os galeguistas de pré-guerra?

O reintegrado, entendido como hoje o entendemos, nom existia no pré-guerra.

Convém deter-se nisto, porque tem dado lugar a discursos que assentam em meias verdades. No pré-guerra nom havia reintegracionistas como tampouco havia isolacionistas. Quer dizer, ainda que houvesse autores que chegassem a utilizar umha ortografia mui próxima à lusista atual (Joám Vicente Biqueira é o mais conhecido) e pessoas mais empenhadas na convergência cultural e lingüística galego-portuguesa, nom se pode dizer que estas pessoas propugnassem umha linha de atuaçom diferente da do resto do galeguismo.

De facto, em geral, pode afirmar-se que no galeguismo havia um grande consenso em relaçom à necessidade de avançar na direçom proposta por estes 'precursores' do lusismo moderno. A razom pola qual nom se chegárom a dar passos ortográficos definitivos neste sentido foi que na altura o galego nom era ensinado nas escolas e nom se podia aspirar a escrever o galego seguindo critérios ortográficos diferentes aos conhecidos polo conjunto da populaçom: os do espanhol.

Com o fim do regime franquista e a chegada do galego ao ensino, os desejos do galeguismo de pré-guerra tornárom-se propostas práticas, mas umha grande parte dos novos galeguistas que medrárom ao abrigo do grupo Galaxia já renunciárom àquela aspiraçom da Geraçom Nós, e a convergência ortográfica frustrou-se.

Para saber mais

terça-feira, 21 de junho de 2011

Sempre Galiza! – Ricardo Carvalho Calero visto por José Manuel Beiras

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho

Ricardo Carvalho Calero é um marco das letras galegas e tem, portanto, sido um dos frequentemente propostos para a homenagem anual da cultura galega que constitui a designação para o Dia das Letras Galegas. Tem, continuamente, sido preterido. Sem discutir o valor dos escolhidos, Carvalho Calero merece há muito a distinção que a RAG (Real Academia Galega) lhe continua a negar. Preteriu-o no passado, preteriu-o em 2011 e, anunciada que foi já a escolha para o próximo ano, voltou a preteri-lo para 2012.

Tão forte parece a embirração da RAG com Carvalho Calero que se vai começar a pensar que maior distinção é não ser escolhido por aquela. Não fosse uma das exigências para ser distinguido a de ser falecido e interessante seria ver o que diriam os próprios designados do "veto permanente" a Carvalho Calero.

No Estrolabio de 17 de Maio, Carlos Loures lamentava que, uma vez mais, a RAG tivesse denegado a Carvalho Calero a homenagem merecida e desde há dez anos proposta.

A 18 de Maio, Carlos Loures voltava à liça com novo texto, em diálogo com a interessante nota de Carlos Durão em A Nossa Língua e agradecendo a resposta avançada à interrogação que deixara.

A 24 de Maio, pelo seu interesse, e pela relação estabelecido entre os nomes de Carvalho Calero e de Lois Pereiro - o distinguido em 2011 -, transcrevemos o texto de José-Martinho Montero Santalha, presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP).

Conhecida que foi a escolha para 2012 do poeta e ensaísta Valentim Paz Andrade - também ele um defensor da unidade linguística galego-portuguesa e alguém que colaborou com Carvalho Calero na redacção do Anteprojecto do Estatuto da Galiza, apresentado em 1931 - soube-se da afirmação feita por um membro da RAG, Ramón Lorenzo, sobre Ricardo Carvalho Calero acusando-o, por defender a unidade linguística galego-portuguesa, de ter feito mal à língua galega: «eu sou contra de que se lhe dê o Dia das Letras Galegas porque há que ver o mal que lhe fizo este homem à língua. É isso que nom se quer ver. [...] é o culpável deste tremendo problema que tivemos com o galego»

Ricardo Carvalho Calero foi filólogo e escritor, nacionalista, teórico do reintegracionismo, professor universitário e o primeiro Catedrático de Língua e Literatura Galegas. Cidadão empenhado, foi co-fundador do Partido Galeguista, opositor da ditadura de Primo Rivera e do golpe fascista de Franco, de 1936, contra o qual combateu como voluntário pela República. O seu pensamento político correspondendo a um nacionalismo galego de esquerda.

Catedrático e especialista da língua, o seu prestígio fez dele, em 1980, uma escolha incontestada para a nomeação pelo Parlamento pré-autonómico galego como presidente da Comissão encarregada de elaborar um padrão escrito para o galego. O padrão proposto pela Comissão apresentava uma orientação reintegracionista, embora mantendo transitoriamente o uso duma ortografia ainda de influência espanhola.

No entanto, na sequência duma viragem do poder político, o apoio inicial à Comissão presidida por Ricardo Carvalho Calero é abandonado e atribuída a autoridade linguística a um instituto linguístico de Compostela de orientação isolacionista face ao português e cuja proposta de normativização, aprovada pela Junta da Galiza em 1982, estabelece um padrão contrário à unidade linguística galego-luso-brasileira e favorável à influência escrita do espanhol sobre o galego.

Na década de 80, Carvalho Calero será um dos principais críticos da orientação da nova política linguística das autoridades da Galiza, considerando o pretenso 'bilinguismo igualitário' dado desembocar "na monarquia de aquela das duas línguas que possuí maior potência social", que no caso galego não é outra que a privilegiada pelo poder durante séculos: o espanhol ('Bilinguismo e bigamia', in Uma Voz na Galiza, 1984).

Estará aqui a razão da "vingança" dos iluminados da RAG?

Para juntar ao debate, transcrevemos o texto "O meu Ricardo Carvalho Calero" de José Manuel Beiras, publicado no jornal Galiza Hoje, a propósito das declarações de Ramón Lorenzo sobre Carvalho Calero. José Manuel Beiras foi membro fundador do Partido Socialista Galego PSG), nos anos 60, seu secretário-geral nos anos 70, tendo participado na fundação em 1982 do Bloco Nacionalista Galego (BNG) do qual foi membro da Direcção, Presidente e deputado. Economista e escritor, membro da Real Academia Galega desentendeu-se com a presidência desta sobre da Lei de Normalização Linguística do Galego.

O meu Ricardo Carvalho Calero

XOSÉ MANUEL BEIRAS

En recentes entrevistas motivadas polo seu merecido Premio Trasalba, o meu vello amigo e en tempos camarada de "noviciado" universitario, Ramón Lorenzo, referiuse con certa insistencia ao "gran mal que lle fixo á lingua" galega o profesor Ricardo Carvalho Calero no período auroral da Autonomía, mesmo até consideralo "o culpable deste tremendo problema que tivemos co galego" -por mor da lea antre "oficialistas" e "reintegracionistas" acontecida nos anos oitenta verbo da normativización do noso idioma. Coido eu que, tanto no plano sociolingüístico canto no ideolóxico e máis no político-institucional, están moi claras as causas, os causantes e os "culpábeis" dos andacios padecidos outrora e aínda arestora polo noso idioma, e que incluír nese bando a "don Ricardo" constitúe cando menos unha grave deformación da realidade. Porén, non quero -eiquí e agora- entrar en polémica. Si, en troques, ofrecervos a miña visión vivencial de aquil rexo, insubornábel e entrañábel loitador a prol da cultura, o idioma e os dereitos políticos soberanos do seu povo, e máis algunhas claves seica esquencidas da xestación do "problema Carvalho". Limítome a transcreber a seguida o que lles eu contara a Miguel Anxo Fernán Vello e Francisco Pillado hai xa un decenio, cando andabamos a elaborar o noso segundo libro de conversas. Veloeiqui.

*****

"Eu tiña unha admiración plena pola figura de Ricardo Carvalho Calero en todas as súas facianas e proxeccións, tanto a intelectual como a literaria, e tanto a biográfica como a da súa personalidade humana, que me resultaba fascinante e conmovedora. Admiración e simpatía, profunda simpatía, e mirade que para moita xente que valoraba a apreciaba a Carvalho resultáballe calquera cousa menos simpático. Mais a min suscitabame simpatía, eu empatizaba coa súa fasquía, co seu aquel adusto e cerimonioso na aparencia de "scholar" británico tópico, que ao cabo era unha protección externa da súa grande timidez. ¿Coñecedes a anécdota acontecida ao remate da súa oposición á cátedra de galego?. É reveladora. A min contárama daquela algunha testemuña presencial. É [era] habitual que cando o tribunal procede a votar o faga en presenza dos opositores e do público asistente, e que a seguida o candidato elixido estreite a man dos membros do tribunal, que o felicitan e el dá as grazas: é a liturxia final da oposición. Cando foi o caso de Carvalho, Ricardo foi estreitar as mans e recibir os parabéns, conforme a esa liturxia, mais non dixo "grazas" a ninguén. A insólita expresión que utilizou foi: "Magnánimos señores!". Só a Ricardo Carvalho Calero podía ocorrérselle verbalizar dese xeito a súa emotividade nunha situación como ésa.

"A min conmovíame a súa sobria afouteza moral, e non só por coñecer o estoicismo co que aturara tantos malos tratos e tanta marxinación e tanta amargura que lle fixeran padecer os fascistas, senón tamén pola personalidade que destilaba a súa simple presenza, aquel seu saber estar onde e como debía intelectual e moralmente estar sen a menor estridencia, pero cun peso específico que se percibía como percibes o dunha peza de metal nobre sen tan siquera teres que collela na man nin apalpala. E é curioso, porque, a diferenza doutras persoas desas xeracións inmediatamente seguintes á Xeración Nós, a Ricardo eu non o coñecin de neno, senón xa na miña adolescencia e máis aínda xa na miña mocidade, e aínda así "tuteábao" como a del Riego ou Piñeiro, que con todo eran máis novos. Non o coñecin cando neno porque [el] non vivía en Santiago nin en Vigo, que son as cidades onde se desenvolve primordialmente a miña nenez, mais tamén porque meu pai, que coñecía e tiña amizade con Carvalho dende os tempos do Seminario de Estudos Galegos e do Partido Galeguista na República, non mantiña relación frecuente con el. Coido que Carvalho é a única das personalidades senlleiras do universo cultural e político do galeguismo-nacionalismo que coñecín primeiro polos seus escritos que en persoa. Meu pai tiña prácticamente todo canto libro se editara en galego antes da Guerra Civil, e polo tanto, tiña a obra poética de Carvalho publicada nos anos trinta. Mais tamén estaba subscrito a Bibliófilos Galegos, e alí editárase A xente da Barreira, que eu lin cando saíu, sendo aínda un adolescente.

"Durante os anos 50 eu vexo a Carvalho moi episódicamente. É con posterioridade cando empezo a ter máis relación con el, e xa moito máis dende o momento en que se fai cargo da primeira Cátedra de Lingua e Literatura Galegas. Pero é nun período no que tamén hai un distanciamento e mesmo unha ruptura constantemente acentuada entre Carvalho e o grupo galaxián, sobre todo con Piñeiro. Piñeiro comentaba ás veces que Carvalho Calero estaba "neura" ou que estaba "tolo", nun senso figurado, naturalmente. Pero ¿por qué facía esa afirmación?. Pois porque, segundo el, Ricardo empeñabase en converter o ensino do galego nunha disciplina odiosa. Dicía que era moi duro coa xente e que tiña que facer da materia algo que fose agradábel e atractivo para a xente. Noutras palabras, facer proselitismo ou, se cadra, unha especie de "maría" que resultase simpática.

"Eu non estou en condicións de calibrar en que medida o xeito de entender e practicar a docencia Carvalho podía dar pé a este tipo de comentos -que, polo demáis, se facían en privado, ou cando menos eu non os escoitei en presenza de persoas que non pertencesen ao círculo de confianza-, porque nunca asistín a ningunha sesión de aulas de Carvalho Calero. De xente que foi alumna súa teño escoitado opinións variadas, mais todos os que foron alumnos seus e máis tarde mostraron valía como filólogos, especializados ou non en galego, adoitan falar moi positivamente das ensinanzas recibidas de Ricardo. Pero quero sinalar, porque fun testemuña presencial, algo que bota máis luz e aporta máis claves sobre o que estaba a acontecer na relación entre Carvalho e o grupo de Piñeiro que calquera outro comentario. É o seguinte. Carvalho era un out-sider na universidade de entón, e mesmo, para a xente máis conspicuamente pertencente aostablishment académico-universitario, resultaba simplemente un intruso. Carvalho tiña a carreira de letras ademáis da de dereito, como é sabido, con titulacións anteriores á Guerra Civil. Mais non chegara á cátedra de galego na Facultade de Letras compostelán a través do curriculum usual, e mesmo obrigado, para facer carreira docente na Universidade de entón, e tamén na de agora: formarse dentro dalgunha das "escolas" encabezadas por calquera das autoridades académicas nos eidos da filoloxía románica, que "naturalmente" radicaban en Madrid ou Salamanca. Por outra banda, cando se dota a cátedra de galego que gaña Carvalho, non se insire na creación dunha sección de filoloxía galega na Facultade de Letras compostelá -iso acontecerá anos máis tarde- senón como unha disciplina incrustada na licenciatura de Filoloxía Románica, sen máis, como unha insuíña arrodeada do español por todas partes. Pois ben, dende que chega[ra] de catedrático á Facultade de Filoloxía Constantino García, que non era galego nin se formara sequera inicialmente en Galiza, o círculo galaxián, e nomeadamente Piñeiro e García-Sabell, comeza[ra] a desenvolver unha operación de captación de Constantino, de asiduo cultivo do seu ego, que axiña desemboca[ra] nun notorio proceso de promoción deste personaxe nos medios culturais e intelectuais do galeguismo de entón. E, por suposto, esa promoción faise primordialmente nos medios estudantís, a través dos mozos e mozas que frecuentaban a Piñeiro. Eu teño presenciado, e mesmo participado en conversas de Piñeiro con Carlos Casares, arredor da famosa "mesa camilla", cando Casares aínda era estudante, que tiñan todo que ver co que estou a dicir. A operación, en si mesma, tiña un sentido comprensíbel e mesmo encomiábel, dentro dunha estratexia de política cultural galeguista nunha institución tan colonial e refractaria á cultura galega xenuína como a Universidade: tratábase de establecer nela cabezas de ponte para chegar a conquistala e galeguizala. Mais axiña derivou, en detrimento de Carvalho, nunha posta en contrastación de Carvalho, o out-sider indíxena, con Constantino, o pied-noir con pedigree académico comme-il-faut. E sobre todo, acabou axiña por derivar nun corrosivo e soturno proceso de deterioro do prestixio e da solvencia científico-intelectual da obra de Carvalho, tanto no eido da gramática -a súa pioneira Gramática elemental do galego común [1ª edición: 1966]- como no da análise literaria. Iso foi algo que considerei inxusto, desleal e inaceptábel dende que me decatei, e que me empurrou a unha posición moralmente solidaria con el. É a partir deses momentos cando paso a ter máis sintonía e a manter unha relación máis estreita con Carvalho, unha relación que xa non é compartida no ámbito do círculo galaxián e que se fai cada vez máis densa, até termos ambos a peripecia da Academia, que xa é dabondo coñecida."

*****

Hoxe, dez anos despois de ter dito o que antecede, reitéroo ao pé da letra. E inda engadiría máis en honra e louvanza do meu vello amigo, mestre de meu en tantas cousas, e compañeiro solidário en idearios e combates emancipadores, que foi Ricardo Carvalho Calero -porque sempre detestei a utilización de "chivos expiatorios" pra eludir as proprias responsabilidades en problemas de calquera caste.


sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sempre Galiza! – wiki-faq AGAL (16) : Questões linguísticas – Normas

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho

wiki-faq do reintegracionismo

( http://agal-gz.org/faq/ )



Normas

Que é a norma ILG-RAG?

Trata-se de umha normativa ortográfica e morfológica elaborada polo Instituto da Língua Galega (ILG), e aprovada pola Real Academia Galega (RAG) , que tem sido utilizada pola administraçom autonómica galega desde o ano 1982.

A norma ILG-RAG é a plasmaçom gráfica e morfológica do postulado que defende que o galego e o português som línguas diferentes por elaboraçom e devem possuir portanto códigos divergentes. Ainda que os seus defensores nom neguem a unidade estritamente lingüística dos falares a norte e a sul do Minho, consideram que desde o século XIX os utentes do galego escrito começárom um processo de elaboraçom do código afastado do português.

O resultado deste processo refletiria-se nas normas ILG-RAG. O texto das normas foi redigido polo ILG e assumido pola RAG depois de grandes controvérsias com o reintegracionismo, que defendia que o português devia ser tido em conta. De facto, a maior parte do texto das normas foi dedicado a justificar aquelas decisons mais polémicas em relaçom a este debate.

Com a chegada de Alianza Popular ao poder, através do conhecido Decreto Filgueira (em referência ao seu redator Filgueira Valverde), estas normas vinhérom a substituir as anteriores de Carvalho Calero aprovadas polo Junta pré-autonómica para o ensino e a Administraçom, acentuando-se a chamada “guerra normativa”.

Que é a norma AGAL?

A norma da AGAL é umha proposta para escrever as falas galegas utilizando a ortografia portuguesa.

Após a institucionalizaçom das normas ILG-RAG em 1982, a Comissom Lingüística da associaçom promotora elaborou nesse mesmo ano umha proposta que, sem convergir completamente com o português, pretendia dar um passo definitivo no sentido de integrar as falas galegas no ámbito da Lusofonia. O facto de ser umha proposta muito aberta, que dava opçom a escolher diferentes formas do galego falado e ainda a ser aplicada com diferentes ritmos (mesmo sem conhecimento do português), facilitou que fosse adotada por numerosos coletivos para além dos, até entom, estritamente lingüísticos.

Neste sentido, pode-se dizer que com ela nasce a prática reintegracionista contemporánea.

Em que se diferencia a norma AGAL das usadas no Brasil e em Portugal?

A norma da AGAL é a norma utilizada para representar a variedade galega da língua portuguesa. A nossa língua tem desenvolvido particularidades diferentes em cada um dos territórios em que é falada, e muitas dessas particularidades refletem-se em cada umha das normas escolhidas para a representar. Por isso, diferentes aspetos morfológicos, lexicais e mesmo ortográficos podem divergir de umha norma para outra.

Em termos gerais, as principais diferenças entre a norma da AGAL e as de outros territórios encontram-se na morfologia verbal, nas terminaçons -om e -ám face à maioritária na lusofonia -ão e no léxico. Eis mais alguns exemplos das diferenças mencionadas:


GALIZA


PORTUGAL E BRASIL


polo, pola


pelo, pela


umha


uma


figem, dixem, comim


fiz, disse, comi


fijo, pujo


fez, pôs


irmá, maçá


irmã, maçã

Quais som as diferenças entre os padrons lusitano e brasileiro?

Cada território em que a nossa língua é falada tem umhas particularidades e caraterísticas próprias que som refletidas principalmente na oralidade. Nom é esta umha afirmaçom que surpreenda ninguém, e muito menos pessoas que estám habituadas a ouvir e identificar o espanhol de Valhadolid, Sevilha, México ou Buenos Aires.

No caso do português, e com um mínimo contacto que tivermos com as suas variantes dialetais, acontecerá o mesmo. As principais diferenças entre a variedade portuguesa e brasileira som, na atualidade, a colocaçom do pronome (amo-te vs te amo), o pronome tu (ausente no Brasil) e, muito especialmente, lexicais.

Ora bem, quanto à escrita, as particularidades de cada variante vírom-se muito reduzidas após a aprovaçom do Acordo Ortográfico de 90, que unificou quase totalmente a grafia dos “grupos cultos” (objectivo > objetivo, accionar > acionar…), o uso do traço (infra-estrutura > infraestrutura) ou do trema, que desaparece na ortografia atual.

Quais som os países de língua oficial portuguesa e como escrevem?

Para além da Galiza, onde foi oficializada umha variante do português com ortografia espanhola, os países de língua oficial portuguesa som, na atualidade: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Até a aprovaçom do AO de 90, em relaçom à escrita, havia dous grandes blocos: por um lado, o Brasil, e por outro, todos os demais países Lusófonos, que seguiam a prática gráfica de Portugal.

Superficialmente, o AO implicou umha aproximaçom à prática ortográfica do Brasil, o mais potente país de língua portuguesa nos dias de hoje.

Nom será melhor que a gente fale galego e depois já vemos o da norma?

Felizmente, antes de haver normas as pessoas já falavam. No momento de instaurar qualquer norma para qualquer área, o ideal é que a escolha seja feita atendendo a critérios de eficácia. No caso da norma para o idioma galego nom foi assim, e foi um jogo de forças políticas o que decidiu o atual código utilizado na administraçom pública e por todas as entidades dependentes dela, caso do mundo cultural.

Neste contexto atual, nom parece mui eficaz negar mutuamente a legitimidade das duas estratégias e sim o seria aproveitar ao máximo ambas. Trataria-se de caminhar em direçom a um binormativismo que permita somar esforços e a satisfaçom de os valedores/as de cada estratégia.

O reintegracionismo é só umha maneira de fazer o galego mais diferente do espanhol?

O reintegracionismo defende um modelo lingüístico que vincule as nossas falas aos outros ‘galegos’ do mundo.

Isto tem várias conseqüências: umha delas, talvez a mais visível, é a mudança dos hábitos ortográficos que até agora nos vinculam ao espanhol:


ESPANHOL:


Las luces brillaban en el horizonte sin apagarse ni por un segundo.


GALEGO ILG-RAG:


As luces brillaban no horizonte sen apagarse nin por un segundo.


PORTUGUÊS E GALEGO REINTEGRADO:


As luzes brilhavam no horizonte sem se apagarem nem por um segundo.

Portanto, é inegável que o reintegracionismo torna o aspeto do galego mais diferente do espanhol, mas nom é verdade que seja essa a intençom do nosso movimento. O nosso desejo é, sobre qualquer outra intençom, confluir com a tradiçom gráfica das outras variedades do galego no mundo. Se fosse doutro modo, poderíamos simplesmente ter optado por umha ortografia diferente:

  • As luses briljavan n'horiçonte sin s'apagharen nen por un seghundo.
  • ασ λυζεσ βρηλάβαμ νο οριζομτε σεμ σε απαγαρεμ νεμ πορ υμ σεγυμδο.
  • Ас лузэс брильабам норизомтэ сэм сэ апагарэм нэм пор ум сэгумдо.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Sempre Galiza! – Declaração Galega de Soberania

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho

Neste Maio de 2011, foi criada a petição "Declaração Galega de Soberania" que pode ser lida e subscrita em http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=dgs2011


Petição DECLARAÇÃO GALEGA DE SOBERANIA

Para:Toda a cidadania da Galiza

NÓS, cidadãs e cidadãos, e coletivos da Galiza, no exercício do inalienável direito dos povos e das pessoas à soberania nas suas decisões e nos seus atos,

REJEITAMOS a existência imposta da monarquia espanhola, como forma inerentemente antidemocrática de outorgar o poder e a representatividade a uma pessoa não eleita, em virtude da herança, da classe, do sangue, do género ou de qualquer outra circunstância;

NEGAMOS qualquer legitimidade presente ou futura a qualquer pessoa que afirme exercer ou reclame aspirar a exercer o poder e a representatividade sobre a Galiza em função de qualquer pretenso direito ou tradição monárquica, e negamos qualquer legitimidade a qualquer regime político e ordem jurídica sustentados nesses princípios;

DECLARAMOS a nossa disposição à procura da auto-organização e da auto-gestão democrática da sociedade galega num quadro de verdadeiras igualdade económica e social, liberdade e justiça em todas as dimensões e para todas as pessoas;

RECLAMAMOS os nossos direitos sobre todos os recursos coletivos materiais e simbólicos do território e dos mares da Galiza, sobre o seu uso e desfrute, sobre a sua preservação e sobre a sua disposição para o bem público comum;

DECLARAMOS a nossa vontade de estabelecermos as formas e mecanismos adequados de auto-organização política, económica, social, cultural, territorial e jurídica para reger-nos, incluindo qualquer possível articulação com outros povos, instâncias políticas e coletivos internacionais;

RECLAMAMOS dos poderes e instituições atuais a eliminação de qualquer obstáculo e a evitação de qualquer medida que puderem ir dirigidos contra o nosso direito a fazer realidade a nossa vontade coletiva de auto-determinação livremente expressada;

CONVOCAMOS toda a cidadania da Galiza a se unir à presente Declaração e às ações e passos coletivos encaminhados aos objetivos da nossa soberania; e

DITAMOS a plena legitimidade da presente Declaração como quadro programático e normativo geral para a tomada das decisões e a realização das ações civis necessárias encaminhadas à materialização política do exercício da soberania da Galiza.

Galiza, maio de 2011


Os signatários

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Sempre Galiza! – wiki-faq AGAL (15) : Questões linguísticas – Normas

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho

 

 

wiki-faq do reintegracionismo

( http://agal-gz.org/faq/ )

 



Normas

 

Que é a Reforma de 2003?

É o nome popular que recebe a reforma das Normas Ortográficas e Morfolóxicas do Idioma Galego (ILG-RAG) de 2003. Em termos sociais, significou a anulaçom da dissidência normativa que promoviam as agrupaçons culturais e sociopolíticas vinculadas ao Bloco Nacionalista Galego.


No mundo lusista, a reforma é considerada insuficiente. De facto, para além de admitir a prioridade de formas já antes consideradas válidas (terminaçom -bel, todos os, comer o caldo, contraçom ao…), a reforma de 2003 trouxo poucos avanços. O mais significativo, sem dúvida, é a obrigatoriedade da terminaçom -zo, -za em palavras como espazo e presenza. Porém, num malabarismo difícil de compreender, o topónimo Galiza foi retirado dessa lista, o qual frustrou as expetativas das bases do próprio mundo político que impulsionou a reforma, onde o vocábulo Galiza tem grande simbolismo. Posteriormente, alguns académicos admitírom que a razom para tal era política.


A partir de 2003, já só o reintegracionismo difere da posiçom institucional quanto à filiaçom da língua, mas, em contrapartida, goza de umha notável projeçom social, marginal até há pouco.

 


Que é o Acordo de Rio?

O chamado Acordo de Rio [de Janeiro], do ano 1986, foi a tentativa de unificaçom ortográfica entre os países de língua oficial portuguesa imediatamente anterior ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (AO de 90). Nele, como posteriormente no AO de 90, participou umha delegaçom de observadores galega.


No texto do mesmo operavam-se profundas modificaçons, nomeadamente no que di respeito à acentuaçom, e isso provocou que fosse amplamente rejeitado nalguns países, designadamente em Portugal. Foi esta rejeiçom o que provocou que se avançasse para um outro acordo: o já referido de Lisboa de 1990.

 


Que é o AO de 90?

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (AO de 90) é um tratado internacional em que participárom todos os países lusófonos, incluída umha delegaçom de observadores da Galiza, cujo objetivo é a simplificaçom da ortografia do português.


Ainda que com resistências, já está a ser aplicado em todos os países participantes, incluída a Galiza, onde tanto os utentes da norma da AGAL como do padrom lusitano, já começárom a implementar as modificaçons propostas no AO.


Estas afetam, por exemplo, a acentuaçom, o traço e as maiúsculas. Porém, a alteraçom mais visível é sem dúvida a supressom dos chamados grupos cultos <cc>, <ct> e <cp> nas palavras em que estes nom eram articulados nas pronúncias cultas (ou tradicionais no caso galego) de nengum dos países lusófonos: projeto (por projecto), atividade (por actividade), etc.


Espera-se que ao longo da década de 2010 as alteraçons do novo acordo já estejam a ser usadas por todos os meios de comunicaçom e centros de ensino lusófonos.

 


Que opções temos para escrever na Galiza com ortografia galego-portuguesa?

Na prática, existem duas variantes de 'galego reintegrado', em grande medida complementares. Para além da norma da AGAL, há quem defenda no reintegracionismo a adoçom do padrom lusitano, sem o passo intermédio que representaria aquela norma.


Porém, entre os utentes do padrom lusitano, há quem use diretamente o português de Portugal (agora AO) e quem respeite um bom número de traços morfológicos galegos (polo, fijo…). Deste modo, a principal discrepáncia entre as pessoas partidárias da norma da AGAL e do padrom lusitano seria o uso do til de nasalidade, que os defensores do português padrom consideram símbolo da nossa língua no mundo: ção/-çom.


Hoje em dia, no conjunto do movimento reintegracionista, o uso de ambas as normas tornou-se complementar, tendo quase desaparecido os acesos debates do passado entre as duas posturas. 


terça-feira, 7 de junho de 2011

Sempre Galiza! – Lois Pereiro: poeta galego-punk ou vice-versa (2)

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho


 

 

 

 

 

Continuando com a apresentação do poeta distinguido este ano no Dia das Letras Galegas, Lois Pereiro, aqui trazemos mais um punhado dos seus poemas, que estamos a descobrir convosco.

 

Sobre ele podem ler no blogue http://loispereiro.blogaliza.org .

 

 

 

 

 

Dyn-Amo e Steve Dwoskin ós trinta anos

 

A perfección era unha intuición fráxil

na que habitaba un virus definido

en cada movimento interpretado

polo discurso estético da pel

Talco e carmín

seducción subcutánea

a atrocidade orixinal das vísceras

furia xestual en cada un dos seus nervos

na sesión de strip-tease daquela noite

Confusamente a imaxe dos seus lavres

voando sobre Europa

A vida sucesión de luz e sombras

o segredo da perfección máis pura

somentes unha sombra de dúbida nun xesto

a lene distorsión nun dos seus movementos

en fuxidía expresión de terror lúcido

nos ollos e na boca

esa era a perfección definitiva.

Caíron logo os ollos os pezóns

e coa furia da súa visión súpeta

todo o que puido arrincar ledamente irada

coa única forza das súas propias mans

e o poder que posúe quen descobre a verdade.

 

 

 

 

 

Luz e sombras de amor resucitado (1995):


VII

 

(Tantos anos que non me observaba

unha pel distinta á miña, ou que non fose xa

parte dos meus ollos, explorada, coñecida

ou compartida...)

 

               Vendo eses dous ollos latexantes

               cal visión dunha imaxe entresoñada

               no seu peito en perfecta simetría

               cun interno tremor que me fascina

               desexaría entrar nela e refuxiarme

               no seu corpo secreto para sempre

               protexido da morte

               coa súa vida

 

               féndeme o corpo un húmido arrepío

               e bícame as vértebras con furia

               nun vértigo de dor e de tenrura.

 

xuño, 95

 

 

Poemas da morte sobrevivida a forza de paixón e sabotaxes (1995)

 

Mala sorte

 

(Cunha bala calibre sete sesenta e cinco

no peto máis pequeno do vaqueiro, sei que

a miña vontade é decisiva para escoller

o momento e o lugar. E apálpoa cos dedos

a todas horas.)

 

E por primeira vez desde que souben

que aínda respiraba e seguía vivo

sei o que é sentir medo a non estalo

 

Interrompido na mellor escea

cando estaba soñando un soño dérmico

de paixón e beleza

cunha serea distancia literaria e sabia

 

Só ela podía ser tan inoportuna

groseira inculta e pouco delicada

chamándome despois de ter sobrevivido

á confortable atracción do fracaso

e saber dunha vez o que era a vida

amar e ser amado.

 

setembro, 95

 

 

 


 

 

The flowers of friendship faded

Friendship faded

 

Presentimos as horas do vrao

vivir de día

os futuros soños fríos

 

de amenceres de lúa con armarios transparentes de ollos fríos

asesinos de princesas durmidas

en moreas de bebidas inocentes

reises da explosión solitaria

nun día escuro do país acusados de querer ser

ananos e vivir na herba

apuntándovos coa morte en decadencia

dende o día do viaxe

ou fuxida sentimental

oubeando (a chamada do bosco que se me escondía)

o sonido

de senso desesperado

o sonido tráxico.

 

O éstase

en sorrisa vendo

como Piedad matabas aquil buraco escuro con forma de crime

onde o silenzo ule

a tormenta nostálxica e neurótica

                                                   (un centro neurótico pro

cun límite marcado nalgún sitio)

e non era a primeira vez

que o suicidio voaba no ceo da última paisaxe

Mary (buked and scorned)

xa o tiña visto

no ceo de California.

 

 

 

Leitura de 5 poemas de Lois Pereiro

(Declaración - Arturo Casas; Namorado outra vez - Antón Losada; Revisando os danos - Paco Macías;

Soir - Antón Patiño; Narcisismo - Antón Lopo)

 

 

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Sempre Galiza! – wiki-faq AGAL (14) : Questões linguísticas – Normas

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho

 

 

wiki-faq do reintegracionismo

( http://agal-gz.org/faq/ )

 



Normas

Que é a "Guerra Normativa"?

A “guerra normativa” é a denominaçom popular que recebe o debate sobre a relaçom entre o galego e o português. Este debate foi especialmente intenso nos ámbitos filológicos e políticos nacionalistas nos anos 70 e 80 e chegou ao seu clímax a partir da institucionalizaçom das normas ILG-RAG em 1982, quando a maior parte do professorado de galego, em 1986, assinou um manifesto pola concórdia normativa.

 

Se bem que antes de 1982 fossem várias as propostas normativas de tendência reintegracionista (como as de Martinho Montero, Valentim Paz Adrade ou as oficiais entre 1980 e 1982 de Carvalho Calero), foi a partir deste ano que se popularizárom várias codificaçons propositadamente alternativas às normas ILG-RAG: as normas da AGAL, em forma de Estudo Crítico em 1982 e de Prontuário em 1985, as da AS-PG e as diferentes variantes dos chamados mínimos reintegracionistas.


As primeiras concitárom grande apoio no mundo científico e as últimas fôrom as usadas pola prática maioria das organizaçons do movimento galeguista até 2003. Nesse ano, por pressons de setores universitários ligados ao BNG, a RAG aceitou certas modificaçons do texto normativo em direçom à convergência com o português. Pretendia-se assim acabar com a guerra normativa, mas para entom o “reintegracionismo” já tinha forte presença nas ruas e na recém-popularizada Internet.

 

Todas as línguas tenhem conflitos normativos?

Sim, ainda que a sua natureza nem sempre é a mesma.

 

A maioria das línguas e variedades tenhem umha única norma nacional. É o caso da nossa língua em Portugal ou no Brasil ou o castelhano em Castela ou México. Nestes casos os debates sobre a norma tenhem a ver essencialmente com modernizá-la. Em geral, as escritas som conservadoras a respeito da falas, o que vai criando umha distáncia entre elas. Por isso surgem vozes reclamando reformas de maior ou menor profundidade. Sirva como exemplo a norma de Bello.

 

Ora, existem contextos onde podem existir duas normativas para a mesma língua. O caso galego é um deles, onde a par do galego ILG-RAG existe o galego-português. Existem ainda outros casos como som o grego, o norueguês ou o valenciano. No grego existiu até há pouco o Catarévussa (criado no séc. XIX para servir de enlace com o grego clásico) e o demótico (baseado na língua popular e único oficial desde 1976). No norueguês existe o bokmal (com palavras do dinamarquês) e o nynorsk (isento de danicismos). No valenciano existe as normes de Castelló que é um catalám de Valência e as normes del Puig que promove umha língua separada do catalám e umha presença maior de castelhanismos.

 

A oficializaçom do binormativismo seguindo a via norueguesa podia ser umha via na Galiza para aglutinar os falantes e os movimentos sociais em volta da nossa língua, aproveitando o melhor de cada umha das estratégias.