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terça-feira, 31 de maio de 2011

Sempre Galiza! – Lois Pereiro: poeta galego-punk ou vice-versa

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho


 

Iniciámos a publicação de textos relativos aos autores que têm vindo a ser anualmente distinguidos no Dia das Letras Galegas: Rosalia de Castro (1963), Daniel Castelão (1964), Eduardo Pondal (1965).

 

Interrompemos, momentaneamente, aquela sequência para dar lugar ao distinguido este 17 de Maio de 2011: Lois Pereiro.

 

 

 

Luis Ángel Sánchez Pereiro, mais conhecido como Lois Pereiro, escritor e poeta galego, nasceu a 16 de Fevereiro de 1958, em Monforte de Lemos (Galiza), e faleceu, com 38 anos e doente, a 24 de Maio de 1996, na Corunha (Galiza).

 

Foi escolhido pela RAG para o Dia das Letras Galegas deste ano de 2011.

 

 

 

José Martinho Montero Santalha, presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP), contou-nos como o poeta Lois Pereiro é mencionado num poema de Ricardo Carvalho Calero, em agradecimento aos dez poetas “de amor e desamor” pelo exemplar e dedicatória que lhe ofereceram.

 

Em vida publicou duas obras; Poemas 1981/1991 (1992) e Poesía última de amor e enfermidade (1995), tendo, após a sua morte, sido publicada Poemas para unha Loia (1997), que recolhe obras da época madrilena, publicadas na revista “Loia”.

 

Diz o seu irmão, Xosé Manuel Pereiro, que ao escrever os seus primeiros poemas declarou que nunca escreveria em castelhano.

 

 

 

Como não conhecia este poeta, de lírica punk dirão alguns e talvez não o enjeitasse o próprio, procurei na rede e aqui deixo dois dos poemas encontrados na Biblioteca Virtual Galega:

 

 

 

En doce versos falsos 



1


A miúdo botas negras e o seu xesto
(abandonadas do corpo que as esixe)


2


na postura dun acto de violencia
(sen a expresión real do asasinato)


3


pousadas coma un signo
(de furia e de nostalxia)


4


na noite lostregada
(esvaíndose da morte sen imaxe)


5


esluída no refuxio
(doutra visión que medra)


6


da procesión de euforia
(sabendo que hai un drama elaborado)


7


na creación volcánica dun soño
(coma orixe do desespero agudo)


8


na idea procreada
(dun par de botas negras)


9


que non entraría en min
(pola porta dun mundo que me invade)


10


sen o pruído curioso
(que agora me traspasa)


11


cravado sen molestias nos meus ollos
(tan cegos coma o teu útero estéril)


12


que van durmir o soño que non sinto.

 

 

  

 

Poemas póstumos (1992-94)

 

Curiosidade

 

 Saber que está un á morte

e o corpo é unha paisaxe de batalla:

unha carnicería no cerebro.


¿Permitirías ti, amor deserto,
que nesta fevre penitente abrise
a derradeira porta e a pechase
detrás miña, sonámbulo e impasible,
ou porías o pé
entre ela e o destino?

 


novembro, 92



  

 

 

 

As armas da paixão - um vídeo documental sobre a vida e a obra de Lois Pereiro

 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sempre Galiza! – wiki-faq AGAL (13) : Questões linguísticas – Normas

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho

wiki-faq do reintegracionismo

( http://agal-gz.org/faq/ )



Normas

Que é umha norma ou padrom de língua?

Existem muitas teorias lingüísticas sobre o conceito de norma em geral e norma padrom em particular. No entanto, no que ao debate galego di respeito, o relevante é que a norma padrom, quer oral quer escrita e seja qual for o registo, é aquela que se sobrepom às outras variedades lingüísticas, usando-se em ámbitos mais amplos do que as outras.

Quanto à oralidade, no caso das línguas estatais, esta costuma coincidir com a variante da capital do Estado (Paris, Madrid, Lisboa…) ou grandes centros económicos (São Paulo, Munique, Berlim), que tenhem mais força para divulgar a sua própria variedade nos meios mais influentes (p. ex. os de comunicaçom). Ponhamos um exemplo do espanhol: se a capital do Estado estivesse em Sevilha e nom em Madrid, provavelmente a palavra muchacho seria hoje pronunciada muxaxo na maioria dos meios de comunicaçom e nas escolas. Neste caso, dizemos que a pronúncia do espanhol do norte (muchacho) é a padrom e a do sul, umha pronúncia regional (muxaxo).

Nestas mesmas línguas estatais, a escrita costuma assentar numha tradiçom literária estável que foi assentando determinados usos e descartando outros. Porém, nas línguas nom estatais, como a galega, onde essa tradiçom literária estável nom existe e os grandes centros políticos e económicos nom se expressavam em galego, as escolhas normativas que configuram a norma padrom som elaboradas, o que facilita serem percebidas como artificiais e pouco naturais.

O problema é o modelo a seguir para a sua elaboraçom: o do português ou o do castelhano. Eis o debate.

Que maneiras há de escrever o galego na Galiza?

Ao longo dos anos 70, 80 e 90, as propostas normativas para o galego multiplicárom-se tanto que chegou a produzir-se certa confusom entre os utentes do galego quanto à maneira de o escrever. Porém, e ainda que muitas vezes nom fosse reconhecido, atrás de todas aquelas propostas havia unicamente duas filosofias normalizadoras e por isso essa situaçom chegou ao século XXI significativamente simplificada.

Hoje em dia pode dizer-se que há duas formas de escrever o galego: a que utiliza a ortografia castelhana e a que emprega a ortografia portuguesa.

Existem, entre quem utiliza a ortografia castelhana, pessoas mais recetivas às influências do mundo lingüístico português e, em sentido contrário, também existem, entre os partidários da ortografia portuguesa, pessoas que usam umha morfologia mais galega e outras que a usam mais portuguesa. É o que se chamam diferentes ritmos de aplicaçom dos diferentes programas lingüísticos que estám a concorrer.

Porém, é inegável que só existem duas práticas estáveis de escrita: a chamada reintegracionista ou lusista e a autonomista ou isolacionista. O programa cultural de ambas é significativamente diferente. O reintegracionismo luita porque ambas as possibilidades de galego sejam reconhecidas para que o melhor de cada um dessas propostas poda contribuir para o fortalecimento da nossa comunidade lingüística.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Sempre Galiza! - Letras Galegas: Guerra da Cal, Carvalho Calero, Lois Pereiro

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho

Como parte da programação de homenagem a Ernesto Guerra da Cal, pelo centenário do seu nascimento, realizou-se, em Santiago de Compostela, no passado 17 de Maio, Dia das Letras Galegas, uma cerimónia pública que teve lugar junto ao monumento a Ricardo Carvalho Calero.

[Recorda-se que a Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP), com o apoio doutras entidades cívicas, criou um sítio web Centenário Guerra da Cal que acolhe e solicita materiais sobre a vida, obra, época e legado intelectual do professor Ernesto Guerra da Cal.]

Além da recordação de Guerra da Cal e do seu papel fundamental em prol do português da Galiza, foram lidos poemas de Guerra da Cal, de Carvalho Calero e de Lois Pereiro (autor distinguido em 2011 pelo Dia das Letras Galegas).

Procedeu-se também à leitura dos manifestos - Manifesto pela Hegemonia Social do Galego e Manifesto da Fundaçom Meendinho "Galegas, galegos, enveredemos o caminho certo” -, de encorajamento da Galiza à participação e vivência plena no espaço da lusofonia.

Na sua simplicidade, também o Estrolabio recordou, no Sempre Galiza do passado dia 17 de Maio, Ernesto Guerra da Cal e o Dia das Letras Galegas e, nesse mesmo dia, Carlos Loures publicou um texto no qual sem contestar a valia da obra de Lois Pereiro (que não conhecia) lamentava que, por mais um ano, Ricardo Carvalho Calero fosse preterido, julgando incompreensível que a um homem como Carvalho Calero continuasse a ser denegada pela Real Academia Galega (RAG) a merecida homenagem e desde há dez anos proposta. Porquê?, repetia uma interrogação já antes formulada.

No dia seguinte, a 18 de Maio, Carlos Loures voltava à liça com novo texto, em diálogo com a interessante nota de Carlos Durão em A Nossa Língua e agradecendo a resposta avançada à interrogação que deixara.

Pelo seu interesse, e pela relação estabelecido entre os nomes de Carvalho Calero e de Lois Pereiro, transcrevemos abaixo o texto de José-Martinho Montero Santalha, presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP):

Carvalho Calero e Lois Pereiro

Os nomes de Carvalho Calero (Ferrol 1910 - Santiago de Compostela 1990) e Lois Pereiro (Monforte de Lemos 1958 - A Corunha 1996) apareceram relacionados quando há um ano a Real Academia Galega decidiu dedicar ao poeta monfortino o Dia das Letras Galegas do presente ano 2011: como é bem sabido, o nome de Carvalho Calero é um dos que mais frequentemente se propõem desde há já alguns anos entre os merecedores dessa homenagem anual da cultura galega.

No tempo da vida não teriam muita ocasião de coincidir Carvalho e Pereiro; mas, apesar da grande diferença de idade, faleceram com só seis anos de distância, o primeiro com 80 anos e o segundo muito prematuramente com menos da metade (38).

Carvalho cita Pereiro

No entanto, na obra poética de Carvalho Calero há uma alusão a Lois Pereiro, que não deixará de ser oportuno aduzir nestes dias em que lembramos o jovem poeta, segado pela doença quando ainda tanta vida (e tanta criatividade literária) lhe poderia ficar por diante.

Quando se publicaram na Corunha os dois volumes de antologia poética intitulados De amor e desamor (A Corunha 1984 e 1985), os autores -- dez poetas, entres os quais se achava Lois Pereiro -- enviaram a Carvalho um exemplar de cada volume, acompanhado, em ambos os casos, de uma dedicatória afectuosa. Estes exemplares conservam-se no Parlamento Galego, na «Biblioteca Carvalho Calero», e as suas fichas estão acessíveis em Internet (nas quais não deixa de indicar-se oportunamente que ambos incluem uma “dedicatória autógrafa dos autores”).

Carvalho Calero agradeceu a dedicatória do primeiro livro com um poema que dirigiu a Fernám Velho, citando nele os nomes dos dez poetas, na ordem em que aparecem na fotografia (magnífica, de Xurxo Lobato) incluída no início do volume. Aí é onde ocorre o nome de Lois Pereiro: “Palharês, Fernám Velho, / Mato Fondo, Valcárcel, / Ribas, Salinas Portugal, Pereiro, / Lino Brage, Xavier Seoane, / José Devesa” (versos 18-22).

Na realidade, o poema desenvolve-se fundamentalmente como um comentário literário à fotografia; mas não falta a referência metafórica ao mundo clássico (com as 9 musas e o pai Apolo, cujos amores os dez poetas conquistariam) e até a alusão biográfica à mocidade do próprio autor e aos seus afãs poéticos de aqueles tempos.

Eis o texto desse poema, que Carvalho incorporou logo ao seu livro Cantigas de amigo e outros poemas (1980-1985), publicado pela AGAL em 1986 (pp. 150-151):

[«Mensagem de agradecimento a Fernám Velho
para os poetas de amor e desamor»]

Tu, Miguel Anjo Fernám Velho,
com o teu aspecto de estudante alemão ou russo,
dos tempos de Heine ou de Puchkin,
em Gottinga ou Moscovo,
dominas pela tua estatura
no grupo fotográfico da linha de poetas
de amor e desamor,
que me enviam os seus versos com palavras irmãs;
se bem Salinas Portugal ou Júlio Valcárcel,
se mais se estalicassem, poderiam,
se quadra, competir contigo
em qualidade de altas antenas receptoras.

Em todo o caso, porque te vejo mais a ti,
envio-te esta carta de graças, telegráfica
amostra de obriga, e leda expressão de amizade
para os dez, como estais
em ringleira de frente despregados,
dispostos à batalha: Palharês, Fernám Velho,
Mato Fondo, Valcárcel,
Ribas, Salinas Portugal, Pereiro,
Lino Brage, Xavier Seoane,
José Devesa, os dez da fama, os dez
dedos do Deus da Nossa Terra,
do Anjo da Nossa Guarda, o Velho
Anjo da Guarda dos Galegos,
que fala em verso, e com o seu verso escreve
as ringleiras da história.

Obrigado. Desejo
que os nove homens do grupo
conquistem cada um o amor e os braços
de uma das nove musas, cada um cada a sua,
e Pilar Palharês os do mesmíssimo
Apolo, pai daquelas, padroeiro
nosso. Não tenho a menor dúvida
de que aquelas e aquele hão-se de render
à beleza e à força e à paixão destes versos
de amor e desamor que agora leio,
devolto a aqueles tempos em que eu mesmo sabia
amar e desamar
liricamente, como
vós, ainda que menos.

Miguel Anjo, antena a quem envio
esta emissão de dívida,
eu, devedor dos dez,
dos dez agradecido amigo e camarada,
retransmite, Miguel, esta mensagem
de Ricardo Carvalho Calero aos nove amigos.


"em ringleira de frente despregados, / dispostos à batalha:

Palharês, Fernám Velho, / Mato Fondo, Valcárcel, / Ribas, Salinas Portugal, Pereiro, /
Lino Brage, Xavier Seoane, / José Devesa, os dez da fama"


sexta-feira, 20 de maio de 2011

Sempre Galiza! – wiki-faq AGAL (12) : Questões linguísticas – Teoria – Para saber mais

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho

wiki-faq do reintegracionismo

( http://agal-gz.org/faq/ )



Teoria

Para saber mais

A questom sobre o modelo culto da língua galega tem gerado um bom número de estudos, alguns dos quais som acessíveis na rede. Sem pretendermos ser exaustivos, coletamos aqui um feixe de ligações interessantes para quem quiger aprofundar neste tema.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Sempre Galiza! – 17 de Maio é o Dia das Letras Galegas. É hoje!

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho

A Imperdível, a loja electrónica da Associação Galega da Língua (AGAL), celebra o dia das letras galegas oferecendo um desconto de 10% em todas as compras feitas neste 17 de Maio. Aproveitem os títulos disponíveis.

Ato de homenagem a Guerra da Cal no Dia das Letras

O evento incluirá leituras de poemas e um roteiro de língua e história pelas ruas de Compostela

PGL - O vindouro dia 17 de maio, Dia das Letras Galegas, às 11h30 em Compostela, diante do monumento a Ricardo Carvalho Calero, terá lugar um ato comemorativo e de homenagem no centenário do nascimento do professor, investigador e poeta galego Ernesto Guerra da Cal (1911-1994).

Guerra da Cal foi sem dúvida o poeta galego que mais eco teve dentro e fora da Galiza, como testemunha a abundandíssima bibliografia transnacional e transcontinental a que deu origem a sua obra. Foi também o professor galego de mais prestígio internacional, autor da por muitos conceitos monumental Língua e Estilo de Eça de Queiroz, e duma viçosa obra devotada à nossa cultura, para a que viveu e pela que padeceu até morrer no exílio, consequente com as suas ideias e firmes ideais.

O ato incluirá a leitura de poemas de Guerra da Cal e de Lois Pereiro, grande poeta galego que também será lembrado. Após a homenagem realizar-se-á um roteiro de língua e história pelas ruas de Compostela, guiado pelo professor André Pena Granha, de participação livre e duração aproximada de uma hora.

A Fundação Meendinho elaborou para o dia das letras de 2011 a seguinte Petição GALEGAS E GALEGOS: ENVEREDEMOS O CAMINHO CERTO, que pode ser subscrita em http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=DLG2011:

A fala da Galiza, o português de Portugal, os português dos distintos estados lusófonos, forma um único diassistema internacional, conhecido entre nós popularmente como galego e internacionalmente como português

Ricardo Carvalho Calero


1- A Língua da Galiza é uma criação original coletiva do nosso povo, que nos faz ser o que somos ao nela vivermos socialmente como tais, pois por cima de qualquer outra cousa ela representa o espírito da nossa alma coletiva como povo diferenciado e original.

2- Portugal esse cerne da velha Galiza, estendeu a nossa língua polo mundo, fazendo dela uma das mais importantes línguas internacionais. A língua da Galiza é, nas palavras tradicionais do galeguismo, extensa e útil.

3- O povo galego na sua língua extensa e útil está e é no mundo, porém sem ela ficará morto.

4- Denunciamos que sob a pretensa normalização da língua da Galiza, sempre inacabada, as autoridades espanholas apresentam a língua nacional carente de qualquer sentido de utilidade e expurgada da sua dignidade e da sua condição de ser uma das línguas europeias de maior difusão internacional, usada em todos os continentes, que com a variedade própria das línguas internacionais é falada por centos de milhões de pessoas no mundo.

5- Enquanto se reforça continuamente o fator da utilidade e a correspondente necessidade da língua castelhana; para a língua da Galiza, o galegoportuguês ou português da Galiza as políticas reduzem-no, a um sentimento carente de utilidade e necessidade, o que a faz perceber como uma escolha na intimidade privada e sentimental, despida do que é a realidade das línguas: Uma criação coletiva que se vive socialmente e como tal é necessária e útil.

6- Na Língua da Galiza cria-se, edita-se, publica-se, como o que é, uma das línguas internacionais do mundo. Denunciamos com o amparo das leis europeias -repetidamente violadas polas autoridades espanholas- ante o nosso povo, os povos do mundo e de jeito especial os da lusofonia que compartimos- que a receção dos meios portugueses de todo tipo, especialmente as televisões segue absolutamente banido da Galiza ao norte do rio Minho, sob as práticas mais corruptas, falsas e vergonhosas.

7- Lembramos, que neste ano de 2011 cumpre-se o 1600 aniversário do nascimento -nas suas palavras- Gallaeciorum Regnum, que com o centro na velha e histórica capital da Galiza –Braga- foi o fermento para o povo galego como tal ser gerado, tanto no que respeita a Portugal, como à Galiza do estado espanhol, que acabou usufruindo esse nome -.

8- Os assinantes, queremos lembrar a todo o nosso povo, que a Galiza foi um reino livre com as suas pegadas na história do mundo e da velha Europa, pleno de sucesso, e que como tal viveu até que a terrível guerra de 15 anos (chamada naquela altura de doma e castração) a seguir a batalha de Toro de 1486, nos submeteu a Castela. Pensamos que é momento de tornarmos à rota certa e relacionarmo-nos com os nossos vizinhos sob os princípios do respeito e da fraternidade solidária.

9- Neste ano, centésimo do nosso grande homem das letras Ernesto Guerra da Cal, queremos destacar a sua figura que tem que ser um farol do agir polo caminho certo e seguro o nosso povo, compartindo esse farol com o do seu bom amigo o também professor Ricardo Carvalho Calero, ante cujo monumento nos achamos.


O Dia das Letras Galegas

O Dia das Letras Galegas começou a ser celebrado em 1963. Desde então, o dia 17 de Maio é dedicado à língua e à literatura galegas. A primeira data foi escolhida de modo a coincidir com a comemoração do centenário da primeira edição de Cantares Galegos, de Rosalía de Castro. Anualmente, a Galiza passou, assim, a homenagear um autor. Para poder ser considerado há que reunir três condições cumulativamente: ter uma obra literária relevante escrita em galego; ter falecido há dez ou mais anos; e, ser indigitado por, pelo menos, três membros da Real Academia Galega.

No Estrolabio, desde o início, demos um espaço à Galiza e às temáticas galegas – políticas, culturais e literárias – e continuaremos a fazê-lo. Criámos mesmo um espaço regular dedicado – Sempre Galiza! – publicado ás 3ªs e 6ªs, mas não exclusivo – as letras galegas, como outras da língua portuguesa, não estão limitadas por um calendário ou secção, espalham-se pelos várias entradas e secções.

Recentemente, iniciámos a publicação sucessiva de textos dos autores já escolhidos para um Dia das Letras Galegas [lista no fim], e fá-lo-emos para todos e cada um deles: de Rosalia de Castro (1963) a Lois Pereiro (2011).

E com eles outros autores galegos que nos cativem.

Aqui vos deixamos (é clicar e ler), como forma de nos associarmos a este 17 de Maio, a selecção dalgumas das entradas portu-galegas publicadas no Estrolabio:

A poesia galego-portuguesa

Rosalía de Castro e o Rexurdimento galego

Cantares de Rosalia

Rosalia de Castro, A Gaita Galega

Rosalia de Castro, Adeus, rios; adeus, fontes

Rosalia de Castro, Negra Sombra

Daniel Castelão: língua e nação

Daniel Castelão, Um conto triste

Daniel Castelão, Uma rua num porto distante

Daniel Castelão, O Retrato

Daniel Castelão, Os velhos não devem enamorar-se e Lela

Eduardo Pondal, o bardo galego

Manuel María, a voz poética da consciência galega

Fala-nos Manuel Maria

Ernesto Guerra da Cal: 2011 centenário do nascimento

Jenaro Marinhas del Valle, O Assento

Sem esquecer, e com uma chamada de atenção especial, o texto do professor Carlos Durão, Síntese do reintegracionismo contemporâneo.

Síntese do reintegracionismo contemporâneo, por Carlos Durão

Continuem a ler, em galego ( = português da Galiza).

Desde 1963, cada ano subsequente, o Dia das Letras Galegas tem vindo a ser dedicado a um escritor em língua galega já falecido:

  • 1963 Rosalia de Castro
  • 1964 Alfonso Daniel Rodríguez Castelao
  • 1965 Eduardo Pondal
  • 1966 Francisco Añón Paz
  • 1967 Manuel Curros Enríquez
  • 1968 Florentino López Cuevillas
  • 1969 Antonio Noriega Varela
  • 1970 Marcial Valladares Nuñez
  • 1971 Gonzalo López Abente
  • 1972 Valentín Lamas Carvajal
  • 1973 Manoel Lago González
  • 1974 Xoán V. Viqueira Cortón
  • 1975 Xoán Manuel Pintos Villar
  • 1976 Ramón Cabanillas
  • 1977 Antón Vilar Ponte
  • 1978 Antonio López Ferreiro
  • 1979 Manuel Antonio
  • 1980 Afonso X de Leão e Castela, O Sábio
  • 1981 Vicente Risco
  • 1982 Luís Amado Carballo
  • 1983 Manuel Leiras Pulpeiro
  • 1984 Armando Cotarelo Valledor
  • 1985 Antón Losada Diéguez
  • 1986 Aquilino Iglesia Alvariño
  • 1987 Francisca Herrera Garrido
  • 1988 Ramón Otero Pedrayo
  • 1989 Celso Emilio Ferreiro
  • 1990 Luis Pimentel
  • 1991 Álvaro Cunqueiro
  • 1992 Fermín Bouza-Brey
  • 1993 Eduardo Blanco Amor
  • 1994 Luís Seoane
  • 1995 Rafael Dieste
  • 1996 Xesús Ferro Couselo
  • 1997 Ánxel Fole
  • 1998 Martim Codax, Joham de Cangas e Meendinho (em conjunto, autores de diversas cantigas medievais)
  • 1999 Roberto Blanco Torres
  • 2000 Manuel Murguía
  • 2001 Eladio Rodríguez
  • 2002 Frei Martín Sarmiento
  • 2003 Antón Avilés de Taramancos
  • 2004 Xaquín Lorenzo Fernández
  • 2005 Lorenzo Varela
  • 2006 Manuel Lugrís Freire
  • 2007 María Mariño Carou
  • 2008 Xosé María Álvarez Blázquez
  • 2009 Ramón Piñeiro López
  • 2010 Uxío Novoneyra
  • 2011 Lois Pereiro

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Sempre Galiza! – wiki-faq AGAL (11) : Questões linguísticas – Teoria – Reintegracionismo e sociedade


publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho


wiki-faq do reintegracionismo

( http://agal-gz.org/faq/ )




Teoria

Reintegracionismo e sociedade



O reintegracionismo sempre estivo vinculado a opçons independentistas radicais... 


O reintegracionismo pode ser defendido seja qual for o ponto de vista ideológico de partida, porque promove umha política cultural e lingüística aberta para o galego, e a defesa de umha língua apenas tem umha paternidade: o povo que a usa. 


Ora bem, nom se pode negar que a maioria das pessoas mais preocupadas polo futuro do idioma, as que mais refletem sobre ele, se encontram no nacionalismo, como em épocas passadas se encontrárom no provincialismo ou no galeguismo. O independentismo político foi um dos setores desse nacionalismo amplo que decidiu pôr em prática a ortografia reintegrada, e nesse sentido merece o aplauso do movimento normalizador. 


Mas o reintegracionismo é defendido por pessoas de todas as ideologias, havendo também, em sentido contrário, independentistas radicalmente contrários a ele.



Será a Shakira muito radical por falar galego?




O ‘povo’ jamais aceitaria o reintegracionismo... 


O povo nunca foi consultado e portanto é um pouco arriscado dar umha resposta ou outra a esta afirmaçom tam repetida em círculos contrários ao reintegracionismo. O problema é que, além de nom ser consultado, o ‘povo’ tampouco dispom de informaçom suficiente sobre esta problemática. Se alguém considera que o povo nom está à altura deste debate, entom tem razom, o povo jamais aceitará o reintegracionismo. Mas nós nom pensamos que seja assim. 


O povo galego é o suficiente maduro para entender que umha língua, para ter sentido no mundo, há de ser o mais útil possível. Por isso saberám compreender as posturas do reintegracionismo, independentemente de concordarem com elas ou nom.



Nom vos aclarades, quantos reintegracionismos há? 


Todos os reintegracionistas queremos retomar o contacto com as outras variedades do galego no mundo, defendendo um modelo ortográfico comum. Aí assenta a coesom geral do nosso movimento. 


Os nossos hábitos de escrita, porém, mostram alguma flexibilidade no grau de convergência com as outras variedades do português. 


Teredes reparado que alguns reintegracionistas utilizam as terminaçons em -çom e outros o til de nasalidade -ção ou que alguns usam a morfologia verbal comum com o resto da lusofonia (eu fiz, eu posso) enquanto outros usam formas galegas (eu figem, eu podo). 


Essa diversidade de usos é necessária em qualquer processo de mudança ortográfica, nomeadamente quando umha língua é minorada no seu próprio país. As soluçons que propomos devem ser testadas no uso, numha retroalimentaçom contínua entre os codificadores e a sociedade. 


Mesmo em línguas, como o alemám, bem assentes nos estados em que som oficiais, iremos encontrar divergências de uso que nom ponhem em causa a unidade geral da língua. Assim, a Suíça e Liechtenstein utilizam “ss” em muitas palavras que os alemáns escrevem com ß : die Straße → die Strasse. 


A vantagem do reintegracionismo é que essas diferenças nom som caprichosas nem caóticas, mas prendem-se com a necessidade de naturalizar a ortografia do português para os falares galegos. 


Sabemos de onde parte e aonde deve chegar a ponte que vamos construir – só falta escolher o melhor lugar para erigir os pilares que a sustentam.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Sempre Galiza! – wiki-faq AGAL (10) : Questões linguísticas – Teoria – Reintegracionismo e sociedade


publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho


wiki-faq do reintegracionismo

( http://agal-gz.org/faq/ )




Teoria

Reintegracionismo e sociedade


Quais som as diferenças entre reintegracionismo e lusismo?

Reintegracionismo e Lusismo som duas denominaçons dadas na Galiza ao mesmo movimento social.

Alguns detratores do movimento utilizam “lusista” de maneira depreciativa e preconceituosa, sugerindo que queremos negar a galeguidade e virar portugueses, o que de nengumha maneira se corresponde com a realidade.


Se o reintegracionismo for aplicado, que acontecerá no ensino?

Contra o que muita gente pensa, o reintegracionismo está longe de ser umha utopia difícil de aplicar. De facto, tem-se implementado noutros países, como a Flandres ou a Moldávia, sem grandes sobressaltos.

No caso da Galiza, o reintegracionismo nom pretende impor-se sobre as outras posturas ou filosofias sobre a língua. Dito de outro modo: a normalizaçom das teses reintegracionistas nom teria porque implicar a derrota das isolacionistas. Basta refletir um bocado sobre o assunto para dar-se conta disto. A língua é património de todas as pessoas que a usam e seria ilógico que umha maneira de entendê-la pretendesse destruir a outra. Infelizmente, é o que acontece na atualidade e cremos que isso está a debilitar enormemente as forças do galego.

No ensino, o mais lógico seria que, ao lado do galego que atualmente é ensinado, as pessoas pudessem conhecer outras variantes da nossa língua no mundo, quer através da própria cadeira de galego, quer através de outra que entendesse o galego e o português de maneira inclusiva. Desta maneira, as pessoas poderiam escolher livremente aquela opçom que achassem mais conveniente para si mesmas ou para a própria língua, em liberdade e sem excluir as outras opçons.

A curto prazo, achamos mui positiva a difusom generalizada do “português língua estrangeira” no ensino secundário, apesar de nom ter em conta o galego. Esta opçom poderá nom só ser benéfica para o reintegracionismo, mas em geral para todas as pessoas que defendem o galego – com independência da ortografia em que escreverem –, e para a sociedade galega no seu conjunto.

Paradoxalmente, um dos principais reptos do reintegracionismo na atualidade será superar o receio de muito professorado de galego. Estas pessoas devem ver no reintegracionismo umha oportunidade mui benéfica para as suas carreiras profissionais, e nunca um problema, pois verám como os horizontes da disciplina que ministram poderám alargar-se consideravemente.


Qual é a situaçom do ensino do português na Galiza?

O ensino do português na Galiza padece umha situaçom bastante precária, nomeadamente nas escolas secundárias.

Segundo dados fornecidos pola DPG (Docentes de Português na Galiza), há entre três mil e quatro mil estudantes de português na Galiza, incluindo as três universidades, as escolas oficiais de idiomas, o ensino primário e o ensino secundário públicos.

Os liceus do secundário som fulcrais para a difusom do ensino de português na Galiza.

Os alunos de mais de 25 estabelecimentos de ensino secundário estám a receber aulas de português, graças ao empreendorismo voluntário de alguns docentes de galego. Nom há, porém, docentes de português contratados como tais pela Junta da Galiza – ao contrário do que acontece com o francês e o alemám na própria Galiza, ou com o português em Castela e Leom e na Extremadura espanhola.

Estuda-se português nas escolas oficiais de idiomas da Corunha, Ferrol, Santiago de Compostela, Ourense, Vila-Garcia, Ponte Vedra, Vigo e Lugo. Nom é possível fazê-lo nas EOI de Viveiro, Ribadeu e Monforte, que sim oferecem outras línguas como italiano ou alemám. Tampouco há português nas secçons (Cangas do Morraço, Noia, etc.) das escolas mais importantes – com a exceçom de Tui.

Por conseguinte, nom há ensino do português para adultos em amplas zonas do país, como a Marinha Luguesa, Bergantinhos-Costa da Morte, Barbança, interior da província de Ponte Vedra, sul e oriente da Província de Lugo, e centro, oriente e sul da província de Ourense, incluindo a Raia Seca.

O português também é estudado nas três universidades galegas: na Universidade de Santiago de Compostela, existe o “Grau em Língua portuguesa e literaturas lusófonas”; na Universidade da Corunha, o “Grau em galego e português: estudos linguísticos e literários”; e na universidade de Vigo, o Grau de Línguas Estrangeiras da Faculdade de Traduçom.

Os Centros de Línguas Modernas das três universidades também disponibilizam cursos de português.
Outros âmbitos de difusom som as escolas primárias, os cursos para profissionais – organizados por sindicatos, empresas, centros de formaçom e outras entidades – e as atividades didáticas ocasionalmente organizadas por centros sociais.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Sempre Galiza! – Eduardo Pondal, o bardo galego


publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho





Depois de Rosalia de Castro, em 1963, e de Daniel Castelão, em 1964, o 3º Dia das Letras Galegas, em 1965, foi dedicado ao “bardo” Eduardo Pondal.


Eduardo Pondal nasceu a 8 de Fevereiro de 1835, em Ponteceso, e morreu em 8 de Março de 1917, na Corunha. Exerceu medicina durante um curto período mas abandonou a carreira médica e foi às letras que se dedicou.



Tendo embora também escrito em castelhano, como é o caso de Rumores de los pinos obra publicada em 1877 e que reune poemas em castelhano e galego, Eduardo Pondal orienta a sua escrita para a recuperação e exaltação da língua e cultura galegas e defesa da liberdade do povo galego.

É dele a letra do hino nacional galego, Os Pinos, musicado por Pascual Veiga, e que corresponde a partes do poema Queixumes dos pinos, de 1886, o qual ampliava e recuperava da versão bilingue dos pinos de 1877 as composições em galego e incluía outras antes em castelhano e reescritas em galego.




Hino Galego – Os Pinos (Os Pinheiros)

Que dim os rumorosos
na costa verdecente,
ao raio transparente
do plácido luar?
Que dim as altas copas
de escuro arume arpado
c’o seu bem compassado
monótono fungar?

Do teu verdor cingido
e de benignos astros,
confim dos verdes castros
e valeroso clam,
nom dês a esquecimento
da injúria o rude tono;
desperta do teu sono,
fogar de Breogám.

Os bons e generosos
a nossa voz entendem
e com arroubo atendem
ao nosso rouco som,
mas só os ignorantes
e férridos e duros,
imbecis e obscuros,
nom nos entendem, nom.

Os tempos som chegados
dos bardos das idades,
que as vossas vaguidades
cumprido fim terám,
pois, onde quer, gigante,
a nossa voz pregoa
a redençom da boa
naçom de Breogám.






A invocação da Galiza, que deve despertar e empreender o caminho da sua libertação, é feita de forma metafórica por referência à nação de Breogã, guerreiro mitológico celta e pai fundador da Galiza, e primeiro título do texto enviado por Eduardo Pondal a Pascual Veiga a solicitação deste.

Cultivando também a lírica, a poesia de Eduardo Pondal é fortemente épica, marcada pelo helenismo e celtismo em que canta o passado, lendas, mitos e gestas dos heróis céltico-galegos.

Essa dimensão está presente não só em Queixumes dos pinos mas também noutro extenso poema épico – Os Eoas – baseado na descoberta do continente americanos, a que Pondal atribuía grande importância mas do qual só publicou um primeiro rascunho em vida e depois só publicado como obra póstuma, em 2005.






Em Pondal encontra-se igualmente o apreço por Camões e afecto por Portugal, como país irmão e aliado desejado e com quem a Galiza partilha a língua, diferente duma Castela que lhes nega nação e língua:

que além Minho estão,
os bons filhos do Luso,
apartados
irmãos
nossos por um destino
invejoso e fatal.
Com os
robustos acentos,
grandes os chamarás,
verbo do grã
Camões
fala de Breogã!



Leitura dum poema de Eduardo Pondal


domingo, 1 de maio de 2011

Primeiro de Maio – DIA INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES

 

Trabalhar que nem um galego
(expressão popular em Portugal sinónimo de trabalhar muito e arduamente, ser explorado)


Celso Emilio Ferreiro (1912-1979)

 

Monólogo do velho trabalhador

 


Agora tomo o sol. Pero até agora

traballei cincoenta anos sin sosego.

Comín o pan suando día a día

nun labourar arreo.

Gastei o tempo co xornal dos sábados,

pasou a primavera, veu o inverno.

Dinlle ao patrón a frol do meu esforzo

i a miña mocedade. Nada teño.

O patrón está rico á miña conta,

eu, á súa, estou vello.

Ben pensado, o patrón todo mo debe.

Eu non lle debo

nin xiquera iste sol que agora tomo.

 

Mentras o tomo, espero.

 

 

Monólogo do velho trabalhador (Pucho Boedo)

 

 

 

Axuntémonos todos, é a loita final

 

 

 

 

 

 

A Internacional (em galego)

 

En pé os escravos da terra,
en pé os que non teñen pan;
a nosa razón forte berra,
o triunfo chega en volcán.
Crebemos o xugo do pasado,
pobo de servos, ergue xa,
que o mundo vai ser transformado
e unha orde nova vai reinar.

Axuntémonos todos,
é a loita final,
o xénero humano
forma a Internacional.

Non hai salvadores supremos,
nin rei, nin tribuno, nin deus,
temos que salvarnos nós mesmos,
o Pobo Traballador.
Para que nos devolvan o roubado,
para derrubar esta prisión,
batamos no lume sagrado,
ferreiros dun mundo mellor.

Axuntémonos todos,
é a loita final,
o xénero humano
forma a Internacional.

 

Primeiro de Maio - DIA INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES

Anos após anos na Galiza, como em Portugal, a miséria e falta de trabalho criaram sucessivas vagas de emigração


“… porque é preferível emigrar para ganhar a vida, do que morrer à fome no torrão nativo…”

 

            (Daniel Castelão, Sempre em Galiza, 1935)

 

 

 Castelão

 

 

 

Rosalia de Castro (1837 –1885)

 

Cantar da emigração

 


Este parte, aquele parte

e todos, todos se vão

Galiza ficas sem homens

que possam cortar teu pão

Tens em troca órfãos e órfãs

tens campos de solidão

tens mães que não têm filhos

filhos que não têm pai

Coração que tens e sofre

longas ausências mortais

viúvas de vivos mortos

que ninguém consolará



Cantar de Emigração (por Adriano Correia de Oliveira)

 

 

País marcado pela terra e pelo mar, assim também os seus trabalhadores

 

Manuel Colmeiro, A sega da herba

 Manuel Maria (1929-2004)

 

O labrego


Un labrego tan só é unha cousa

que case non repousa.

 

Da sementeira a seitura,

pasando pela cava,

a súa vida é moi dura

e moi escrava.

 

Sempre trafegando,

arando,

sachando,

malhando,

gadanhando,

percurando o gando.

 

Sempre a olhar pró ceo

com medo e com receo.

Sempre a sementar ilusión

ponhendo na semente o corazón

pra colheitar probeza e mais tristura.

 

Dilhe ao labrego da beleza

da campía,

da súa fermosura

e poesia.

 

Dírache que sí,

que a beleza pra tí.

 

Pró labrego é o trabalho

o andar tocado do caralho,

o pan mouro i o toucinho.

 

(Múdanse de calzado ou de traxe

cando van de viaxe,

de feira ou de romaxe

e xantan, eses días, pulpo e vinho);

os eidos ciscados, minifundiados

que quér decir atomizados);

o matarse sachar de sol a sol

pra lograr seis patacas

com furacas,

catro grãos de centeo i unha col;

o dobregarse sobor dos sucos

pra pagar gabelas e trabucos;

o vivir entre esterco i animales

en chouzas case inhabitabeles.

 

I aguantar, aguanta e aguantar,

Agardando morrer pra descansar.

 

Canto de seitura (Fuxan os Ventos)