
coordenação Pedro Godinho
I.M. Carvalho Calero/ G. da C. | ||||||||||||
VII | ||||||||||||
BOMBARDEAMENTO ******************** | ||||||||||||
[Barcelona, 1938] | ||||||||||||
Encontrei-a na rua | ||||||||||||
perto da Diagonal | ||||||||||||
Era loira e bem feita | ||||||||||||
Duas covinhas | ||||||||||||
pontuavam-lhe a curva do sorriso | ||||||||||||
auroral | ||||||||||||
Disse-me o nome | ||||||||||||
que os longos anos idos | ||||||||||||
fizeram esquecer | ||||||||||||
Lembro-me do apelido | ||||||||||||
- bem catalão : Carner | ||||||||||||
Era virgem, católica e ardente | ||||||||||||
………….. | ||||||||||||
………….. | ||||||||||||
Depois: dois corpos nus | ||||||||||||
em entrelaçamento incandescente | ||||||||||||
Cheiro a sexo | ||||||||||||
misturado com água de colónia | ||||||||||||
húmidos beijos | ||||||||||||
lascivos e inocentes… | ||||||||||||
E de chofre:-- | ||||||||||||
o alto alarido das sereias de alarme | ||||||||||||
e o roncar dos motores agressores pelos cimos do céu: | ||||||||||||
……………. | ||||||||||||
trovões | ||||||||||||
estilhaços | ||||||||||||
calçadas esventradas | ||||||||||||
prédios ao desbarato | ||||||||||||
corpos despedaçados…. | ||||||||||||
………….. | ||||||||||||
………….. | ||||||||||||
“Fins a demá! – disseste num abraço | ||||||||||||
perturbado | ||||||||||||
no teu idioma próprio | ||||||||||||
Mas não houve ‘amanhã’ | ||||||||||||
naturalmente | ||||||||||||
Não havia tampouco ontem nem hoje | ||||||||||||
Era guerra | ||||||||||||
e a guerra anula o Tempo | ||||||||||||
Tivemos só um instante | ||||||||||||
furiosamente edénico | ||||||||||||
interrupto | ||||||||||||
naquele quarto ingreme e vacante | ||||||||||||
de amorosa guarida | ||||||||||||
E para sempre nunca mais: | ||||||||||||
Adeus! | ||||||||||||
E um holocausto como despedida. | ||||||||||||
LONDRES: Fevereiro, 1992. | ||||||||||||
publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho
I.M. Carvalho Calero/ G. da Cal | |||||||||
VI | |||||||||
“IMAGO FLORIS” ******************** | |||||||||
Para Lena Komura, flor de | |||||||||
Dai Nippon – na Quarta | |||||||||
Dimensão do Sonho. | “Il piu sacro luogo della Creazione | ||||||||
di Dio é il Delta femminino.” | |||||||||
NESTORE D’ALGUECARRA | |||||||||
O teu SEXO indizível: | |||||||||
mistica FLOR carnal | |||||||||
ROSA copulativa | |||||||||
abismal SEMPREVIVA | |||||||||
e BÚSSOLA imperiosa | |||||||||
do encapelado MAR | |||||||||
do meu nocturno ARDOR | |||||||||
ficará para mim | |||||||||
perenemente | |||||||||
como ARCANO candente | |||||||||
do nosso AMOR remoto | |||||||||
e refreado | |||||||||
corporal e auroral | |||||||||
sacro-profano | |||||||||
imaculado SONHO | |||||||||
real-imaterial | |||||||||
e misteriosa- | |||||||||
mente | |||||||||
humano | |||||||||
LONDRES | |||||||||
1 de Agosto | |||||||||
1990 | |||||||||
publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho
Neste momento pode-se passar o nome e os apelidos a forma galega, o que vem recolhido na lei que entrou em vigor no ano 2000.
Procedimento - Pedido (com certificaçom de a forma proposta ser correta e galega) dirigida ao registo civil onde temos a nossa certidom de nascimento. A resoluçom e modificaçom terá lugar em 24 horas. No dia seguinte poderíamos pedir umha certidom de nascimento com a mudança feita e proceder com os distintos documentos legais e em todos os papéis e registos (incluída a certificaçom de casamento). Se há filho/as menores de idade, temos de ir já ao registo onde figurarem as certidons dos(as) nossos(as) filhos(as) e procedermos com a respetiva mudança.
Dificuldades - A principal é a discricionariedade do funcionário(a) na hora de avaliar a “galeguidade” dos nomes e apelidos. Mudanças que num registo som possíveis num outro encontram obstáculos.
Quando a mudança nom sobressai do quadro do galego Ilga-Rag, a melhor estratégia é saber quem vai tomar a decisom, insistir e sobretudo acompanhar o pedido com certificações inapeláveis de autoridade lingüística (no caso ILGA ou RAG). Nos julgados do civil costumam ter bibliografia ao respeito mas a discricionariedade funcionarial pode complicar o processo.
Quando a mudança excede o quadro do galego Ilg-Rag também é possível mas pode ser mais lento exigir mais paciência. É importante juntar documentaçom acreditadora de sermos conhecidos socialmente sob a forma para a que pedimos a mudança: correspondência privada e pública, correspondência comercial (esta e doada de conseguir solicitando receber propaganda na nossa caixa de correio), citações em revistas, cartons de associações, comunicações de organismos oficiais. Quanto mais volumosa e alargada no tempo for a documentaçom, terá mais valor. Ainda, acrescentar umha certidom de autoridade académica (por exemplo, de algum professor do departamento de português de Santiago de Compostela ou de traduçom e interpretaçom de Vigo) será um valor acrescentado.
O processo administrativo tem lugar agora na povoaçom onde moramos. Neste sentido é estratégico investigar a atitude dos funcionários do teu concelho porque pode mesmo ser útil mudar temporariamente de recenseamento (vamos ter que apresentar a certidom municipal de residir no concelho em questom).
Teremos que apresentar umha instáncia ao julgado do civil em que informes de que socialmente és conhecido por XXX e que esta forma nom se corresponde com a forma em que figuras nos documentos. Juntamos a documentaçom acreditadora de seres conhecido assim, o certificado da autoridade competente e o do padrom municipal.
A partir de aqui o julgado cita-te para fazer um auto, e esse dia deverás apresentar-te com duas pessoas maiores de idade (nom servem familiares próximos) e que serám as tuas testemunhas que vam declarar que desde que te conhecem, sempre foi com os nomes e apelidos XXX. O ideal é ter a cumplicidade do(a) funcionário(a) para assim fazer todos os passos num único dia,quer dizer, apresentar a instáncia e ir com as testemunhas. Se se segue o regulamento à risca podem passar 6 meses entre o início do processo apresentando a instância e ser citados para assistir com as testemunhas.
O Julgado, depois de preparar o expediente, passa-o ao juiz ou à juíza que lhe corresponder (e de novo aparece a discrecionariedade). Esta pessoa elabora um relatório quer favorável quer desfavorável para depois o expediente ser elevado polo julgado à Direçom Nacional do Notariado do Ministério de Justiça, para que por delegaçom do ministro adote o conforme com a mudança e proceda a comunicá-la ao julgado que iniciou o expediente e a nós mesmas(os). Se o relatório do juiz é favorável em Madrid vam dar o sim mas se for desfavorável a comunicaçom de Madrid abriria a via para a reclamaçom judicial contra ela, que costuma ser umha via lenta e cara. Nesse caso é melhor começar de novo.
Caso tenha tido umha decisom favorável à mudança, voltamos ao julgado para mandarem ordem aos registos civis onde estám as nossas certidons de nascimento, a de matrimónio, a dos teus filhos/as e em todas se procede a efetuar a mudança. Depois é dirigir-se ao registo civil onde estamos inscritas(os) para pedir umha partida literal de nascimento que já estará corrigida e procedemos à mudança dos documentos.
I.M. Carvalho Calero/ G. da C. | ||||||
V | ||||||
NUDEZ MUDA ******************* | ||||||
[ Soneto desnorteado ] | ||||||
O teu silêncio nu de lenta chuva | ||||||
invade o meu rescaldo vespertino | ||||||
e no ausente sorriso cristalino | ||||||
a minha mão procura a tua luva | ||||||
O teu grito calado, pluma de asa | ||||||
esconde-se num ninho que é um abismo | ||||||
e o rumor da tua carne em hermetismo | ||||||
queima-me a insónia com seu gelo em brasa | ||||||
Nudez ambígua de veraz mentira | ||||||
finge o teu sonho de vendaval que arrasa | ||||||
e afunda o meu, que por teu centro passa | ||||||
e contra o qual o teu sexo conspira | ||||||
Um dia há de chegar | ||||||
talvez no Além | ||||||
em que o teu corpo | ||||||
vença o seu mutismo | ||||||
E nesse dia fatal | ||||||
Dia da Ira | ||||||
tu não seras quem és | ||||||
E eu | ||||||
mortalmente | ||||||
já | ||||||
serei NINGUÉM | ||||||
ESTORIL | ||||||
Alta noite | ||||||
14 de Setembro | ||||||
1987 | ||||||
publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho
Querem os valons ou os quebequenses ser franceses? Os teuto-suíços ou os sul-tiroleses serem alemáns? Os chilenos ou os porto-riquenhos serem espanhóis? Os irlandeses ou os australianos serem ingleses?. É muito freqüente as fronteiras lingüísticas nom se corresponderem com as fronteiras políticas, já que, por umha parte, existem vários grupos de naçons que tenhem a mesma língua oficial: francofonia, anglofonia, hispanofonia, lusofonia, etc., e, por outra, existem muitas mais línguas que estados, e portanto o usual é num estado falarem-se várias línguas.
Os reintegracionistas que militam nalgumha força política fam-no, maioritariamente em forças independentistas ou federalistas, nom existindo na atualidade nengum movimento político organizado que defenda a inclusom da Galiza na República Portuguesa.
Em Portugal continental, exceto o Algarve, a imensa maioria dos turistas som espanhóis, e a indústria turística portuguesa adaptou-se logicamente a esta circunstáncia. De maneira que para os trabalhadores deste ramo falar castelhano é umha mais-valia. E assim tam logo detetam que o cliente é espanhol falam-lhe, melhor ou pior, em castelhano. E fam-no por dous motivos, por tentar agradar a clientela, mas também com o intuito de praticarem o castelhano, e nom sempre a primeira causa é a principal.
Para os galegos que pretendemos falar a nossa língua em Portugal, ou mesmo para qualquer espanhol que pretenda praticar português, este fenómeno revela-se um tanto frustrante. Aliás, como o visitante interage principalmente com a indústria turística -hotéis, restaurantes, lojas de lembranças…-, pode chegar a conclusom de que em Portugal a maior parte da populaçom fala castelhano. Mas este é um fenómeno restrito a tal indústria, e fora dela nom se verifica. Assim se entramos numha livraria, numha sapataria, numha loja de azulejos… o usual é os vendedores falarem unicamente em português.
Para se integrar socialmente.
A língua das pessoas emigrantes costuma ser um indício bastante fiável, em contextos plurilingues, de que língua funciona melhor socialmente. Aprender umha língua implica um esforço que se vê facilitado com o contacto social com os seus falantes. Assim sendo, se os emigrantes lusófonos investem nesse esforço é porque acham que será recompensado. Se o galego fosse a língua social da Galiza, teriam menos incentivos para investir na aprendizagem do castelhano.
Outra questom a tratar seria a expetativa dos e das emigrantes. Quando um brasileiro emigra para a Eslovénia ou a Suécia, tem a expetativa de que ali falam umha língua local. Quando emigra para a Galiza, a expetativa (salvo contadas exceçons) é que falam espanhol porque na verdade estám a emigrar para a Espanha. Esta expetativa poderia ser talvez reformulada se o formato de galego que encontrassem fosse outro, mas, para além de ter uma presença periférica (escasseia nas cidades), a sua vestimenta oficial nom ajuda a fazer as ligaçons necessárias (galego=português).
Naqueles contextos onde o galego é hegemónico é habitual que os emigrantes lusófonos mantenham a sua língua, nomeadamente áreas rurais, ambientes culturais, certas áreas profissionais…
I.M. Carvalho Calero/ G. da Cal | |||||
IV | |||||
EUCARISTIA SACRÍLEGA ********************************** | |||||
“O cheiro a carne que nos embebeda! | |||||
Em que desvios a razão se perde”. | |||||
CAMILO PESSANHA | |||||
Queria a minha BOCA na tua BOCA | |||||
Queria encorporar-te num AMPLEXO | |||||
tornando a tua CARNE CARNE minha | |||||
o meu SEXO habitando no teu SEXO | |||||
Queria a minha ALMA na tua ALMA | |||||
a minha a refulgir no teu REFLEXO | |||||
Receber “CORPUS CHRISTI” do teu CORPO | |||||
comungando a tua HÓSTIA genuflexo | |||||
NOVA-IORQUE | |||||
Abril | |||||
1977 | |||||
publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho
O reintegracionismo é umha filosofia lingüística e cultural, nom política, sendo compatível com qualquer ideologia que respeite a identidade própria da Galiza. Assim, há reintegracionistas de quase qualquer quadrante político. Porém, nom se pode negar que a maioria das pessoas mais preocupadas polo futuro do idioma, as que mais refletem sobre ele, se encontram no nacionalismo, como em épocas passadas se encontrárom no galeguismo, e é deste grupo de gente que se nutre em maior medida o reintegracionismo.
Tirando casos de militantes particulares, a boa saude do galego nom é umha preocupaçom para os partidos políticos de ámbito estatal. Em geral, de facto, as tímidas políticas favoráveis ao galego promovidas tanto polo Partido Popular (antiga Alianza Popular) como polo Partido Socialista Obrero Español, assentam na pressom dos setores da sociedade vinculados aos projetos políticos de ámbito galego.
I.M. Carvalho Calero/ G. da C. | |||||
III | |||||
DESENCONTRO ******************** | |||||
“No te quiero más castigo | |||||
que estés durmiendo con otro | |||||
y estés soñando conmigo”. | |||||
(Copla popular andaluza) | |||||
Os Olhos mutuamente | |||||
fechados e perdidos | |||||
cada um | |||||
no seu longínquo Olhar | |||||
Os Lábios mutuamente | |||||
colados e arredios | |||||
e cada um | |||||
entregue | |||||
a um alheio Beijar | |||||
Os Corpos enlaçados | |||||
e evadidos | |||||
cada um | |||||
para um ausente Lugar | |||||
E ambos os Corações | |||||
remotos e abstraídos | |||||
cada um | |||||
no seu independente Latejar | |||||
E a única Emoção presente: | |||||
o agoniante Esforço errante | |||||
da Imaginação | |||||
- a imaginar! | |||||
LONDRES | |||||
6 de Outubro | |||||
1990 | |||||
publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho
A comunidade reintegracionista é umha parte pequena mas muito ativa da comunidade galecófona, polo qual é muito difícil enumerá-la na sua totalidade. Porém esperamos sermos bastante abrangentes.
Os centros sociais som espaços físicos autogeridos situados nas principais cidades e vilas galegas que servem para acolher as atividades e propostas do movimento associativo vinculado a eles. Som lugar de reuniom, formaçom, convivência e lazer onde a vida decorre ao 100% em galego. Cada centro social tem as suas caraterísticas e particularidades, respondendo em cada caso às necessidades determinadas pola cidade em que estám situados. Há centros sociais independentistas, anarquistas, ocupados… mas em todos eles o reintegracionismo está presente em maior ou menor medida.
Bertamiráns | Boiro | Compostela | ||||
A Fouce | Aturujo | A Gentalha do Pichel | Henriqueta Outeiro | |||
Corunha | Estrada | |||||
A Casa das Atochas | Atreu | Gomes Gaioso | Setestrelo | |||
Ferrol | Ginzo | Lugo | Marim | |||
Artábria | Aguilhoar | Mádia Leva | Almuinha | |||
Noia | Ourense | Ponte Areias | Pontevedra | |||
Roi Soga de Lobeira | A Esmorga | Baiuca Vermelha | Reviravolta | |||
Vigo | ||||||
Faísca | A Revolta |