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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sempre Galiza! – Galegos de Londres. Notas, por Carlos Durão

coordenação de Pedro Godinho

Os textos de Carlos Durão são preciosos para quem se interessa pela história e problemática galega. Depois da publicação do ensaio “Síntese do reintegracionismo contemporâneo” (http://estrolabio.blogs.sapo.pt/901682.html) iniciamos hoje a publicação das suas “notas” londrinas que nos transmitem como aí o exílio e emigração galegos acompanhavam as movimentações no ‘interior’ dos Estados português e espanhol.
[as “notas” já foram também publicadas pela revista Novas da Galiza, nº 89, abril 2010; no PGL, (http://www.pglingua.org/index.php?option=com_content&view=article&id=2285:galegos-de-londres-notas&catid=27:novas-da-galiza&Itemid=83); em Galiza livre (http://galizalivre.org/?q=colaboracom/galegos-de-londres-notas) e em http://lacomunidad.elpais.com/monchofidalgo/posts]

Galegos de Londres. Notas
por Carlos Durão

Tentarei sintetizar algo da atividade cultural e política dos que talvez poderíamos denominar “galegos de Londres” (com algum excurso ao continente), nos derradeiros decénios, e sempre do meu ponto de vista e lembranças, necessariamente limitados.
É sabido que a emissora de rádio britânica BBC tivera um programa galego (assim chamado: Galician Programme) nos anos 40 e 50 do século passado, nomeadamente entre 1947 (14 de abril!) e 1956, dentro do programa espanhol, que era dirigido por George Hills, filho de espanhola (havia também os correspondentes programas em catalão e em euskara); quem se encarregava do programa galego era Alexandro Raimúndez (sob o pseudónimo de Xavier Fernández); Plácido R. Castro foi ali o colaborador principal, mas também, desde a Galiza, F. Fernández del Riego e, com menos participação nos programas, Augusto Assía, R. Carvalho Calero, Celso E. Ferreiro, Ramón Piñeiro, Manuel Maria, Ben-Cho-Shey, Ánxel Fole, R. Otero Pedraio, R. Vilar Ponte, F. López Cuevillas, F. Bouza-Brey, X.Ma e Emilio Álvarez Blázquez, L. Carré Alvarellos, Rafael Dieste, Álvaro Cunqueiro e outros.
O conteúdo daqueles programas “regionais” era mormente cultural, mas a sua projeção política era clara: eram os anos em que existia o governo no exílio, presidido por José Giral (no que estava Castelão), e em que a ONU decretara o isolamento do regime de Franco, com a retirada dos embaixadores, etapa que só remata quando o "Estado Español" (que assim se auto-denominava) ingressa na ONU, apoiado pelo voto americano, Estados do N e do S (muitos destes regimes autoritários).
Não foram essas as únicas emissões galegas no estrangeiro naquela época: em Buenos Aires tinha então Luís Seoane um programa de rádio (Galicia emigrante) e, de Nova Iorque, chegava a voz galega de E. Guerra da Cal (na Voice of America).
Também eu trabalhei nesse departamento da BBC, mas nos anos 60 (chamava-se então Spanish and Portuguese Section), quando já não estavam ali os galegos Alexandro Raimúndez e Plácido Castro, mas sim Ramón Lugrís e Fernando Pérez-Barreiro; entre os colaboradores da Galiza estava na altura V. Paz Andrade; por parte portuguesa colaborava António de Figueiredo. (Outro exilado galego [de nascimento] que colaborava nas emissões em espanhol era Salvador de Madariaga, que fora ministro e diplomata da República.)
Como mostras da atividade cultural e política galega daqueles anos assinalarei o Centro Galego de Londres, o Grupo de Trabalho Galego e as colaborações mais ou menos formais dalguns de nós com “o interior” e com agrupações do resto do Estado Espanhol, que estavam muito ativas na emigração e o exílio europeus e americanos, naquela etapa anterior à denominada “transición”.
Existia, p.ex., um Centro Ibérico (também denominado Centre Ibèric/Erditoki Iberikoaren). Ali travamos relação muitos oponentes dos regimes franquista e salazarista com outros exilados: anarquistas espanhóis da CNT (p.ex. José García Pradas, derradeiro redator-chefe do diário CNT); catalães, exilados já desde a ditadura de Primo de Rivera (p.ex. Jordi Vilanova, que estava a negociar o retorno de Tarradellas); antifascistas portugueses (p.ex. o mencionado António de Figueiredo, que fora secretário de Humberto Delgado: ele lembrava que galegos e portugueses colaboraram no sequestro do navio português Santa Maria por Galvão); os portugueses tinham também o seu Centro, que se chamava Liga Portuguesa do Ensino, onde nós, os galegos, éramos sempre bem-vindos.
Representando ARDE (“Acción Republicana Democrática Española”) lembro que estava Luis Portillo Pérez, que foi o derradeiro cônsul da República no Reino Unido (e pai do ex ministro conservador inglês Michael Portillo); entre os catalães, além do mencionado Vilanova, acho que também estava Carles Busquet, com quem coincidíamos igualmente nas chamadas Cenas de la República a cada 14 de abril (ele estivera nos serviços secretos da Generalitat, e passara a colaborar com os correspondentes serviços britânicos na 2a guerra mundial: dava-nos informação sobre a participação de antifascistas galegos em operações inglesas, como o desembarco em Narvik, ou soviéticas, como do general galego Líster, ou dos galegos que lutaram na Divisão Leclerc, que libertou Paris, ou os que foram ter ao campo de concentração de Mauthausen; também do Consello de Galiza, com o que posteriormente tivemos contatos). Com outro exilado espanhol, Rafael M. Nadal (amigo de Lorca, como Guerra da Cal), tive eu na altura contatos político-culturais.
Era a época das grandes manifestações, contra a guerra do Vietname; a favor de Bernadette Devlin (p. ex. em relação com o Bloody Sunday na Irlanda do Norte); o maio do 68 (mormente francês); as ocupações de casas vazias; a grande manifestação do 73 contra a visita de Marcelo Caetano (meio milhão de pessoas), momento álgido da luta antifascista portuguesa, na que havia uma forte presença de galegos, com bandeiras de estrelas, e onde se confundia “o português” e “o galego” nos cartazes.
(continua dia 21)

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