coordenação de Pedro Godinho
Galegos de Londres. Notas (2)
por Carlos Durão
(continuação)
Mais adiante os centros da emigração agruparam-se na FAEERU (“Federación de Asociaciones de Emigrantes Españoles en el Reino Unido”). Proliferavam então as plataformas e “plata-juntas”, e veio também por aqui o “camarada” Santiago Carrillo, que era tão ignorante das questões galegas que chegou a pronunciar “Castelado” (porque pensava que “Castelão” era uma corrução espanhola dessa suposta forma!). Também o Marcelino Camacho deu aqui o seu mítim, e travou relação conosco.
Anos depois, o jornalista galego (e colaborador do Centro Galego) Emilio López Méndez dirigia Cuenta Atrás (“revista de cultura y temas de emigración”), onde tinha cabida algum texto galego (como também na revista Emigrante, igualmente bilingue, da que eu fui co-fundador). Outro contato era o basco exilado Alberto Elosegi (que assinava os seus escritos como "Paul de Garat"): era irmão daquele rapaz, Joseba Elosegi, que se lançara envolto em chamas diante de Franco no frontão de Anoeta em 1970.
Ao mencionado Grupo de Trabalho Galego de Londres pertenciam a escritora Ma Teresa Barro, o tradutor e escritor Fernando Pérez-Barreiro Nolla, o ceramista Xavier Toubes, o pintor e professor Manuel Fernández-Gasalla, e eu próprio. Publicava um Boletim quasi-bimestral, que enviava aos mestres rurais para se familiarizarem com a primeira Lei do Ensino, de 1970, pela possibilidade que abria de ensinar galego na escola. A sua seção de correspondência estava aberta fundamentalmente aos mestres, mas também a qualquer vulto interessado nestas questões, como foi o caso do escritor galego Ben-Cho-Shey, o prof. brasileiro/português Agostinho da Silva ou o prof. português M. Rodrigues Lapa, que enviavam contributos. O Boletim incluía um suplemento com material escolar imediatamente utilizável. Nos suplementos dos nos. 7 e 8 (fevereiro e abril do 72), o Boletim levava textos portugueses, com algumas instruções para facilitar a sua leitura. No no. 9 (Natal) fazia-se um primeiro intento de adaptar textos de Castelão à ortografia comum. Os componentes do GTGL publicaram um Plano Pedagógico Galego.
Andando o tempo, aquela agrupação cindiu-se amistosamente num novo GTGL (3a etapa, na que não estava eu, mas nele entrara o jornalista Ricardo Palmás Casal), e mais um Seminário de Estudos Galegos de Londres (no que sim estava eu), em colaboração com a Comissão Cultural do Centro Galego de Londres e o Greater London Council (que custeava as despesas do local). Na primeira etapa, foi útil a colaboração dos italianos de Lotta Continua na impressão do Boletim.
O CGL celebrava o Dia das Letras Galegas, o Dia da Pátria Galega (daquela Dia de Galicia), romarias, juntanças, bailes; embora não fosse precisamente a favor de eventos culturais/políticos (a sua Diretiva preferia convidar o então embaixador, Fraga Iribarne), ali conseguimos levar em diferentes épocas conferenciantes como X.A. Montero, J.L. Fontenla R., Santiago Álvarez, I.A. Estraviz, Camilo Nogueira, David Mackenzie. Fora Presidente durante anos Manuel Díaz, do PCG. Publicou alguma revista (Galicia en Londres) e mais uma edição inglesa de A Virxe do Cristal, de Curros, dirigida por Bieito Batán. Na Comissão Cultural do Centro Galego de Londres desenvolvi eu trabalhos ao longo dos anos, não sempre fáceis, e traduzi para galego os Estatutos do Centro, que antes estavam em espanhol.
Mantinha eu também contatos com Amnesty International, à que apresentei um relatório (no 70) a respeito da situação da língua na Galiza, e sobre a prisão de X.L. Méndez Ferrín, por ter ele escrito um romance sobre a guerrilha galega. AI enviou um advogado à Galiza para assessorar no caso. E ainda li eu uma nota sobre Ferrín pelos microfones da BBC.
Quanto ao Consello de Galiza, tivemos um breve contato com a sua delegação em Paris (Xavier Alvajar, das Irmandades Galegas, que mandaram alguma documentação, as Atas da Constituição, textos de Castelão, etc., e deram-nos um contato em Londres), mas era já a época da “transición”, e o centro de gravidade da política de oposição retornou ao “interior”; antes, como bem indicara Castelão, procurávamos seguir o seu conselho aos antifascistas galegos exilados: que não devia haver partidos políticos no exílio, porque não havia então possibilidade de eleições. Ainda tivéramos outros contatos, estes culturais, com o Consello da Cultura Galega, do Centro Galego de Buenos Aires.
Em deslocamentos à Suíça tive contatos com companheiros da Sociedade A Nosa Galiza, de Genebra (M. Suárez López; também com o cantante exilado Xerardo Moscoso, e com Xosé García). Posteriormente fui, para palestras de tema reintegracionista, à Bélgica, à Holanda (Universidade de Groninga, em colaboração com Domingos Prieto e o Lar Galego de Roterdão), e à Alemanha (Universidade Ludwig Maximilian, em colaboração com Carlos Oliveira e a Penha Galega de Munique).
Em certa altura desenvolveu atividades diversas uma denominada “célula de simpatizantes” da UPG em Londres, entre eles A. González Bouzas, X. Matalobos, J. Carvalho (militante) e eu: facilitava logística, publicações, e alguns fundos; posteriormente aquele apoio transferiu-se ao BNG, com César Varela (militante); e Ana Miranda vinha desde Bruxelas (quando era secretária do eurodeputado Camilo Nogueira) para nos informar. Igualmente tivemos juntanças, informais, com Manuel Beiras e Camilo Nogueira. Mas nunca deixamos de atender corretamente alguns representantes da Xunta de Galicia, ainda tendo políticas diametralmente opostas a respeito da língua (e não só). Outro tanto com representantes da Casa de España e do Colegio Español em Londres.
(conclui dia 25)
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