Ricardo Carvalho Calero é um nome forte na literatura, língua, cultura e política galegas.Foi também um combatente. Por isso, sofreu na ditadura franquista.. A clareza e frontalidade das suas opiniões tornam-as incómodas para muitos, acomodados com uma submissão ao castelhanismo. Talvez por isso, a relutância oficialista em reconhecer-lhe institucionalmente o devido valor nas letras galegas.
O reintegracionismo filho político do galeguismo
"Algumas pessoas desinformadas tendem a apresentar-me como um inovador, como um revolucionário polo que se refere ao conceito da nossa língua, mas as minhas opiniões, expressadas naturalmente conforme aos meus próprios parâmetros pessoais, são sem embargo aquelas opiniões, aqueles critérios que tradicionalmente se professam dentro do galeguismo. Uma doutrina revolucionária é, por exemplo, a de que o Galego é uma língua que deve ser considerada absolutamente independente dentro das Línguas da Românica. Isso sim pode ser considerado inovador, ainda que com um tipo de revolução completamente contrário à realidade da experiência histórica [...] eu realmente não creio que se me pode considerar um dos pais do reintegracionismo. Mais bem sou um dos filhos, por que o reintegracionismo nasce cientificamente com o Romanismo, e politicamente com o Galeguismo."
Um galego que seja galego
"De nada nos serviria que todo o mundo falase e escrevese en galego se ese galego [...] era realmente un castellano agalegado [...] Non abonda con que se fale galego, é que é preciso que ese galego sexa galego, é dizer, que non sexa un produto que con nome de galego nos apresente un dialecto do castellano. Asi que esta é a significazón que ten o esforzo que están realizando muitos intelectuais galegos en pro dunha reintegrazón do noso idioma no seu sistema próprio [...] apesar do decreto de unificazón ditado para impoñer unha normativa oficial, existe un sector importante do país [...] que insisten na necesidade de ter en conta o galego histórico, e que non cren que se poda normativizar e normalizar a nosa língua sobre a base da realidade dialectal dos tempos modernos, que é consecuéncia dun proceso de degradazón do noso idioma, producido por circunstáncias históricas de sobra coñecidas."
Nom sei se matei
do livro Futuro CondicionalNom sei
se matei.
Estivem
na trincheira.
Nom vim
o meu
inimigo.
Disparei.
Nom sei
se matei.
Fum ferido.
Mas
nom
sei
se
matei.
Toupa cega,
nom tenho outro olho
que o olho
do meu fusil.
Se quadra o tem visto
o meu
inimigo?
Olhadas de fogo
cruzam-se entre
os dous:
eu
e o meu inimigo.
Fum ferido.
Eu
nom
sei
se
matei.
Saudade dumha voz
do livro Pretérito ImperfectoAssi,
assi cantava ela.
Polo meu coraçom
passa tam fugitivo o seu cantar,
que a lembrança
nom o pode apreixar.
Assi cantava ela,
com aquela voz que era monlho de flores
molhado na água morna da tristeza.
Que cabelos, que vam, que beiços tinha?
É do esqueço. Somente
a sua voz morta fica
no cadaleito do meu peito, acesa.
Perdêrom-se-me os olhos, e o cabelo, e o vam.
Ficou-me só a sua voz,
o eco da sua voz,
sem verba, sem contido.
O seu cantar que cantar era?
Polo meu coraçom
pasa como umha maina bris de outono
remexendo coas asas a arboreda.
Como canta essa bris,
assi cantava ela,
assi era a sua voz.
Aquela voz que era feixe de estrelas
esparegidas polo céu da dor.
Conhecermos Carvalho Calero
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